segunda-feira, 12 de junho de 2023

ALERTA GERAL NO SUL GLOBAL

 

ALERTA GERAL NO SUL GLOBAL

 

 

O Ocidente atlanticista, depois de uma ampla campanha de pressões sobre o sul global para apoiar os fascistas na Ucrânia, estão preparando uma nova “abordagem” para o Sul Global.

Vamos lá. Desde fevereiro de 2022 quando começa a Operação Militar Especial da Rússia, na Ucrânia, os países atlanticista, inclusive com os erros iniciais da Rússia no conflito, alimentaram a ideia de que, bastava reforçar e apoiar ainda mais o exército da Ucrânia, que a derrota russa seria inevitável, começaram a aparecer noticias sobre planos para desmembrar a Rússia em vários países menores etc.


Os fatos no terreno de guerra, no entanto, desmentiram rapidamente essas previsões catastróficas para a Rússia. O que se viu foi o avanço do exército russo, a libertação de regiões de maioria linguística russa na Ucrânia e posteriores avanços.

Nesse momento começam as pressões para que países chaves no Sul Global não só apoiem, mas que participem do esforço de guerra contra a Rússia, via Ucrânia. Os resultados foram desanimadores. China ficou neutra, depois entrou com um plano de paz de 12 pontos que os atlanticista simplesmente ignoraram, O Brasil afirmou sua posição independente, com algumas oscilações, mas ao fim ao cabo se recusando a enviar armas para o conflito e exigir a abertura de negociações. A Índia também manteve uma postura independente e de não interferência no conflito. A África do Sul também se manteve neutra.



Embora não tenham soltado comunicados conjuntos, os países do BRICS adoram uma postura de neutralidade no conflito, militância pela abertura de negociações, se negaram a sancionar a Rússia, não forneceram armas para a Ucrânia.   

Essas posições se espalharam por todo o Sul Global. Indonésia, Arábia Saudita, Irã dentre outros também seguiram uma lógica de não adesão às sanções, não fornecimento de armas. O canto de sereia dos atlanticista não chegou aos ouvidos do Sul Global.

Posto isso, e o fato de que no campo de batalha, a OTAN, o exército Ucraniano e os EUA estão sofrendo uma humilhação após a outra, veja o caso dos Leopards e dos Abramys fritados na frente de batalha, a alternativa vislumbrada pelos atlanticista é aprofundar a guerra, e se possível, leva-la a uma escala global. Isso está sendo feito com o que Pepe Escobar chama de Guerra Hibrida 2.0 contra o Sul Global.

A lógica atlanticista reza que, quem não é amigo, quem não se submete, torna-se automaticamente inimigo, portanto faz todo o sentido a advertência de Pepe em artigo publicado em CulturaEstratégica reproduzida pelo globalsouth.co

Leia na integra AQUI                     

         

quarta-feira, 7 de junho de 2023

A ACERTADA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

 

A ACERTADA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

 

 

 

O Governo Lula, mais especificamente o próprio presidente Lula, acertadamente construiu, em tempo ágil, uma cúpula sul americana da maior importância.

A cimeira reuniu os chefes de estado de todos os países sul-americanos num momento singular da geopolítica internacional.

Com esse evento, Lula põe o subcontinente na crista da onda, dá um F5 na América do Sul, observando sagazmente o movimento em curso no mundo.

Que movimento é esse? A reorganização geopolítica do mundo rumo a formação de blocos regionais fortes.

Apenas para ficar no obvio: na Ásia, temos a ANSEAN, que reúne as nações do Sudeste da Ásia, UA União Africana, a SCO Organização para a cooperação de Xangai, a UEE União Econômica Eurasiática, a EU União Europeia etc.

No âmbito da América do Sul só tínhamos o Mercosul depois veio Unasul, mais antiga a Comunidade Andina, em 1998 é formada a ACTO Organização do Tratado de Cooperação Amazônica. As inúmeras dificuldades dos países sul americanos bem como a diversidade, a intervenção constante do imperialismo dificultou o funcionamento dessas iniciativas em vários níveis, inclusive com a infame dívida eterna a que muitos no subcontinente estão submetidos.

Dai a importância da iniciativa de Lula. Ela se coloca num momento de crise e tensões no centro do sistema. O grande Hegemon encontra-se atolado na Ucrânia, um atoleiro auto infligido, com volumes absurdos de recursos, a pauperização da Europa e a derrota cada dia mais evidente da OTAN frente ao exército russo.

De outro lado temos a emergência de novos centros de poder, notadamente o acentuado pêndulo do poder econômico em direção a Ásia com a China ultrapassando os EUA em várias áreas e a EURASIA, com a liderança da Rússia.

 

As possibilidades abertas à América do Sul

 

Esse cenário cria uma oportunidade única para nós, sul americanos, de avançarmos na construção de uma sociedade melhor.

O subcontinente americano é rico em recursos naturais petróleo, áreas agrícolas, um setor agroexportador bastante avançado. Temos algumas das maiores reservas de lítio conhecidas do planeta. Além do ouro, cobre e prata explorados desde os tempos coloniais temos grandes reservas de ferro, diamante, chumbo, zinco, manganês, estanho bauxita e gás natural. Recentemente o México propôs aos países da região a   criação de uma espécie de OPEP do lítio.

Contamos ainda com cerca de 12% da superfície terrestre e 6% da população global. Somos banhados pelo Mar do Caribe e pelos oceanos Pacifico e Atlântico               

 

O subcontinente tem assim objetivamente condições de formar um bloco econômico forte o suficiente para se tornar um player mundial. A iniciativa do presidente Lula baseia-se muito nessa crença. Numa percepção de que, sim temos enormes problemas, mas ao mesmo tempo temos enormes possibilidades.

 Nossos eternos dilemas

Apesar das condições objetivas, o subcontinente encontra-se enterrado sob a esfera de influência dos EUA. Resulta disso burguesias clientes do capital norte americano que, com aprofundamento do domínio do capital rentista nos EUA, se submetem a essa lógica depreciando sua industrialização.

Os EUA atuaram ativamente na região financiando, influenciando, fomentando partidos políticos que, uma vez no poder, implementam uma lógica de desmonte do Estado de privatizações de grandes empresas chaves dos serviços básicos à população.

O efeito dessa lógica deleitaria na região são o aumento da pobreza, as dificuldades de acesso a serviços básicos. As empresas públicas objeto de privatizações são adquiridas por fundos de investimento, bancos e outras empresas multinacionais a preços depreciados

Resulta daí que nossa direita e ultradireita é, essencialmente e contraditoriamente entreguista. Abusam dos símbolos nacionais, juram amores a pátria, mas entrega o patrimônio nacional a preço de banana e em desfavor das suas populações.  

No entanto, em momentos como a atual onde emergem governo progressistas nos principais países da região renascem as esperanças de que uma articulação regional possa atuar na superação dos enormes problemas das populações mais pobres, articular políticas econômicas de incentivo ao desenvolvimento de uma

economia regional voltada para o desenvolvimento e incremento de uma produção industrial, para a autossuficiência alimentar, uma indústria naval própria e, em perspectiva, segurança militar na região.

 

Essa é a dimensão da iniciativa do governo Lula e sua visão das possiblidades abertas ao subcontinente sul americano.          

 

 

Isaias Jose de Almeida Neto

Pós-graduado em História do Brasil

Professor Aposentado redes públicas e privada de ensino da Educação básica e Superior              

quarta-feira, 24 de maio de 2023

O LEGADO DE MORTE DO OCIDENTE

 

Vinte anos após os ataques terroristas de 11 de setembro, surgiram dados estatísticos convincentes sugerindo que o verdadeiro número de mortos da 'Guerra ao Terror' pode chegar a seis milhões de pessoas - e que esse número colossal provavelmente é conservador.

Os EUA lideraram os ataques no Iraque, Afeganistão, Síria, Iêmen e Paquistão matando pelo menos 4,5 de pessoas e provocando um deslocamento de refugiados entre 38 – 60 milhões.

Hoje 7,6 milhões de crianças passam fome nesses países. 

Veja o estudo da Brown University Leia aqui

BRICS - Pegue sua senha

 

Depois de ver seu PIB ultrapassar o PIB do G,7 os BRICS não param de receber solicitações de novos integrantes. Além da força econômica, os BRICS têm outro atrativo que tem seduzidos os outros países: cooperação, desenvolvimento, comércio, não interferência na vida alheia. Resultado tai a lista de novos pretendentes. E a distribuição de senhas ainda não terminou.

 

 A


rgel, Argentina, Afeganistão, Bangladeche,

Bahrein, Bielorrússia, Venezuela, Egito,

Zimbábue, Indonésia, Irã, Cazaquistão,

México, Nigéria, Nicarágua, Emirados Árabes Unidos,

Paquistão, Arábia Saudita, Senegal, Síria,

Sudão, Tailândia, Tunísia, Peru,

Uruguai

segunda-feira, 22 de maio de 2023

O caso Vinicius Junior, muito além do futebol

 

O caso Vinicius Junior, muito além do futebol

 

“Nós somos o jardim, o resto do mundo é a selva e o jardim precisa ser protegido da selva”

Joseph Borrell

 

Há tempos a Europa tem regredido no se que refere a muitas coisas, mais especialmente no preconceito, racismo, xenofobia, eslavofobia e russofobia.  Parece que a indigência intelectual de suas lideranças se expressa no empobrecimento humanitário de grande parte de sua população e o caso do racismo com o jogador de futebol Vinicius Junior, do Real Madri, no último fim de semana demonstra, mais uma vez esse fato.

Quando a primeira notícia da construção de uma união europeia chegou até mim confesso que fui tomado por um idealismo romântico. Fiquei entusiasmado porque a Europa poderia superar questões seculares como um nacionalismo exacerbado intolerância religiosa etc, A Europa assim poderia oferecer a humanidade um outro projeto de sociedade, mas cooperativa, mais tolerante, mais solidaria. Isso foi no século passado.

Nas últimas décadas, com a ascensão da extrema direita e governos neocons, ainda que travestidos de social democratas, verdes, liberais, trouxeram a tona, uma onda de intolerância, racismo, xenofobia e todos os sentimento mais baixos do ser humano.    

O desprezo por imigrantes, negros, eslavos e tudo que não for branco, ocidental, anglo-saxão, teutônico, católico ou evangélico, é um sentimento que perpassa grandes parcelas da população da sociedade ocidental.

Aqui, no Brasil, conhecemos o racismo como algo direcionado aos negros, mas na Europa o racismo vai além e engloba todo o leste europeu, tratado como inferior. Hitler apenas vocalizou e agiu sobre esse sentimento que está presente em muita gente por lá.

O projeto de Hitler para o leste Europa era simplesmente transformar a população daquela parte da Europa em mão de obra compulsória para a indústria do III Reich.

As práticas do governo espanhol como o muro de Ceuta, a perseguição aos ciganos por parte da França e da Itália, especialmente aos romenos, o antissemitismo, sem falar nos indivíduos de origem africana discriminados em toda a região, mostram que a Europa está regredindo não só economicamente, mas em termos civilizacionais.     

Há, no entanto, muita gente boa por lá, resta esperar que elas tenham forças para reverter essa tendência nefasta.   

quinta-feira, 18 de maio de 2023

CÚPULA CHINA - ÁSIA CENTRAL

       

    DIPLOMACIA CHINA  

    A cúpula China-Ásia Central testemunhará a assinatura de uma série de documentos em comércio, investimento, conectividade e outros campos.

    Encontro histórico para injetar ímpeto na cooperação de alta qualidade da BRI. (Belt and road Initiative.)

    A China através da BRI, vai aprofundar nessa cimeira com os países da Ásia Central, novos acordos e medidas de implantação da Nova Rota da Seda.

    Xi fará um discurso de abertura na cúpula, expondo a posição da China sobre como construir a comunidade China-Ásia Central com um futuro compartilhado, visando o desenvolvimento de longo prazo para a cooperação entre os seis países, apresentando uma série de proposições e anunciando múltiplas medidas e ações pragmáticas.

    A BRI compreende um Cinturão Econômico da Rota da Seda – uma passagem transcontinental que liga a China ao sudeste da Ásia, sul da Ásia, Ásia Central, Rússia e Europa por terra – e uma Rota da Seda Marítima do século XXI, uma rota marítima que conecta as regiões costeiras da China com sudeste e sul da Ásia, Pacífico Sul, Oriente Médio e África Oriental, até a Europa.


    Participam dessa cúpula: Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão

     

    A iniciativa define cinco grandes prioridades:

     

    coordenação de políticas;

    conectividade de infraestrutura;

    comércio desimpedido;

    integração financeira;

    e conectando pessoas.

    Detalhe: E nenhuma bala, nem armamento algum.

    Leia mais 

domingo, 14 de maio de 2023

A EUROPA PODE SOBREVIVER A ESTE MOMENTO?

 

Um novo fantasma está pairando sobre a Europa - a guerra. O continente mais violento do mundo em termos de número de mortes causadas por guerras nos últimos 100 anos (para não recuar mais e incluir as mortes sofridas pela Europa durante as guerras religiosas e as mortes infligidas pelos europeus aos povos submetidos ao colonialismo) caminha para uma nova guerra.

Quase 80 anos depois da Segunda Guerra Mundial, o conflito mais violento até agora, que matou entre 70 e 85 milhões de pessoas, a guerra que está a caminho pode ser ainda mais mortal. Todos os conflitos anteriores começaram aparentemente sem um motivo forte e deveriam durar pouco tempo. No início desses conflitos, a maioria da população abastada seguia sua vida normal – compras e teatro, leitura de jornais, férias e conversas ociosas sobre política.


 Sempre que surgia um conflito violento localizado, prevalecia a crença de que seria resolvido localmente. Por exemplo, muito poucas pessoas (incluindo políticos) pensaram que a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), que levou à morte de mais de 500.000 pessoas, seria o prenúncio de uma guerra mais ampla – a Segunda Guerra Mundial – mesmo que as condições no chão apontaram para isso. Sabendo que a história não se repete, é legítimo perguntar se a atual guerra entre a Rússia e a Ucrânia não é o prenúncio de uma nova guerra muito mais ampla.

 

Acumulam-se os sinais de que um perigo maior pode estar no horizonte. Ao nível da opinião pública e do discurso político dominante, a presença deste perigo manifesta-se em dois sintomas opostos. Por um lado, as forças políticas conservadoras não apenas controlam as iniciativas ideológicas, mas também gozam de uma recepção privilegiada na mídia. São inimigos polarizadores da complexidade e da argumentação serena, que usam palavras extremamente agressivas e fazem apelos inflamados ao ódio.

 Estas forças políticas conservadoras não se incomodam com a duplicidade com que comentam os conflitos e a morte (por exemplo, entre as mortes resultantes dos conflitos na Ucrânia e na Palestina), nem com a hipocrisia de apelar para valores que negam pela sua prática (eles expõem a corrupção de seus oponentes para esconder a sua própria).

 Nessa corrente de opinião conservadora, cada vez mais posições de direita e de extrema-direita se misturam, e o maior dinamismo (agressividade tolerada) vem destas últimas. Este dispositivo visa inculcar a ideia da necessidade de eliminar o inimigo. A eliminação por palavras leva a uma predisposição da opinião pública para a eliminação por atos.

 

Embora numa democracia não existam inimigos internos, apenas adversários, a lógica da guerra é insidiosamente transposta para assumir a presença de inimigos internos, cujas vozes devem primeiro ser silenciadas. Nos parlamentos, as forças conservadoras dominam a iniciativa política; enquanto as forças de esquerda, desorientadas ou perdidas em labirintos ideológicos ou cálculos eleitorais incompreensíveis, revertem a uma defesa tão paralisante quanto incompreensível. Como na década de 1930, a apologia do fascismo é feita em nome da democracia; a apologia da guerra é feita em nome da paz.

 Mas essa atmosfera político-ideológica é sinalizada por um sintoma oposto. Os observadores ou comentaristas mais atentos estão cientes do fantasma que assombra a Europa e surpreendentemente convergiram ao expressar suas preocupações sobre o assunto. Nos últimos tempos, tenho me identificado com análises de comentaristas que sempre reconheci como pertencentes a uma família política diferente da minha: comentaristas conservadores, de direita moderada. O que temos em comum é a distinção que fazemos entre as questões da guerra e da paz e as questões da democracia. Podemos divergir no primeiro e convergir no segundo. Todos concordamos que só o reforço da democracia na Europa pode conduzir à contenção do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e, idealmente, conduzir à sua solução pacífica. Sem uma democracia vigorosa,

 


Há tempo para evitar a catástrofe? Eu gostaria de dizer que sim, mas não posso. Os sinais são muito preocupantes. Primeiro, a extrema direita está crescendo globalmente, impulsionada e financiada pelas mesmas partes interessadas que se reúnem em Davos para cuidar de seus negócios. Na década de 1930, tinham muito mais medo do comunismo do que do fascismo, hoje, sem a ameaça comunista, temem a revolta das massas empobrecidas e propõem como única resposta a violenta repressão policial e militar. Sua voz parlamentar é a da extrema direita. Guerra interna e guerra externa são as duas faces do mesmo monstro, e a indústria de armas ganha igualmente com ambas as guerras.

 Em segundo lugar, a guerra na Ucrânia parece mais confinada do que na realidade é. O atual flagelo, que assola o continente, onde há 80 anos morreram tantos milhares de inocentes (a maioria deles judeus), assemelha-se muito à autoflagelação. A Rússia até aos Urais é tão europeia como a Ucrânia, e com esta guerra ilegal, para além da perda de vidas inocentes, muitas das quais serão pessoas de língua russa, a Rússia está a destruir as infra-estruturas que ela própria construiu sob a ex-União Soviética.

 A história e as identidades étnico-culturais entre a Rússia e a Ucrânia estão muito mais entrelaçadas do que com outros países que outrora ocuparam a Ucrânia e agora a apoiam. A Ucrânia e a Rússia precisam garantir uma maior ênfase em seus processos democráticos para acabar com a guerra e garantir a paz.

 

A Europa é muito maior do que os olhos de Bruxelas podem alcançar. Na sede da Comissão Europeia (ou sede da OTAN, que dá no mesmo), domina a lógica da paz segundo o Tratado de Versalhes de 1919, e não a estabelecida no Congresso de Viena de 1815. A primeira humilhou a potência derrotada (Alemanha) após a Primeira Guerra Mundial, e a humilhação levou a uma nova guerra 20 anos depois; este honrou a potência derrotada (a França napoleônica) e garantiu um século de paz na Europa.

 

A paz que hoje se propõe é a do Tratado de Versalhes. Pressupõe a derrota total da Rússia, tal como Adolf Hitler a imaginou quando invadiu a União Soviética em 1941. Mesmo admitindo que isto ocorra ao nível da guerra convencional, é fácil prever que se a potência perdedora tiver armas nucleares, não hesitará em usá-los. Haverá um holocausto nuclear. Os neoconservadores americanos já incluem essa eventualidade em seus cálculos, convencidos em sua cegueira de que tudo ocorrerá a milhares de quilômetros de suas fronteiras. América primeiro... e por último. É bem possível que já estejam pensando em um novo Plano Marshall, desta vez para armazenar o lixo atômico acumulado nas ruínas da Europa.

 Sem a Rússia, a Europa é metade de si mesma, econômica e culturalmente. A maior ilusão inculcada nos europeus pela guerra de informação do ano passado é que a Europa, uma vez amputada da Rússia, poderá recuperar sua integridade com a ajuda dos EUA, que cuidam muito bem de seus interesses. A história mostra que um império em declínio sempre tenta arrastar suas zonas de influência para retardar o declínio. Se ao menos a Europa soubesse cuidar de seus próprios interesses.

Boaventura de Sousa Santos é professor emérito de sociologia na Universidade de Coimbra, em Portugal. Seu livro mais recente é  Decolonizing the University: The Challenge of Deep Cognitive Justice .

Publicado originalmente no globetrotter

FILME: RASTROS DE UM CRIME

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