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terça-feira, 30 de abril de 2024

O SUL GLOBAL COMO PROJETO POPLÍTICO

 



O termo “Sul”[1] apareceu no vocabulário internacional em 1980 [2] e sua associação com o adjetivo “Global” ocorreu a partir do final da Guerra Fria, com a intensificação do discurso e das dinâmicas da Globalização (DIRLIK, 2007). Devido à referência aos países pobres e “em desenvolvimento” em contraste com os mais ricos e desenvolvidos, o Sul Global é herdeiro do conceito de “Terceiro Mundo”, [3] atualmente em desuso. Em ambas denominações, a classificação hierárquica entre os países considera o estágio de desenvolvimento econômico em direção à modernidade como parâmetro principal. Por sua vez, o entendimento de “modernidade” e “desenvolvimento” é fortemente associado à ideia de progressão ou evolução. Entretanto, assim como o Terceiro Mundo, o Sul Global não pode simplesmente ser visto como um conjunto de países não desenvolvidos e não modernos, localizados nas zonas ex-coloniais do globo. Existem diferentes significados para as duas categorias, as quais não devem ser compreendidas em um sentido exclusivamente geográfico ou territorial. Ambos termos foram capazes de projetar uma identidade geopolítica subalterna, reivindicando um diferente caminho de pertencimento no sistema e na sociedade internacional.

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quinta-feira, 11 de abril de 2024

CHINA: O pesadelo do Ocidente

 




A China está a construir muitos veículos eléctricos e painéis solares e quer vendê-los a baixo custo durante uma emergência climática – e devemos acreditar que isto é uma coisa má?

Michael Roberts é economista na cidade de Londres e um  blogueiro prolífico .

Postagem cruzada do blog de Michael Roberts

Artigo completo dessa excelente analise do Michael Roberts você encontra na Brave New Europe.

https://braveneweurope.com/michael-roberts-chinas-unfair-overcapacity


sábado, 13 de janeiro de 2024

CONHEÇA MELHOR O IÊMEN

 


Saná Capital do Iêmen
O golfo de Aden é um golfo situado no mar de Omã, no norte do oceano Índico, entre a Somália, no Chifre da África, e o Iémen, na costa sul da península Arábica. O seu nome provém da cidade de Aden, na extremidade sul da península. O golfo conecta-se, ao norte, com o mar Vermelho, através do estreito de Babelmândebe, com mais de 30 km de largura, e tem o mesmo nome da cidade portuária de Aden, no Iêmen.

 

Historicamente, o golfo de Áden era conhecido como "golfo de Berbera", em alusão à antiga cidade portuária somali, situada na margem sul do golfo, na atual Somalilândia. Todavia o desenvolvimento da cidade de Adem, durante a era colonial, fez com que o nome de "golfo de Aden" prevalecesse sobre a antiga denominação.

Este mar marginal foi formado há cerca de 35 milhões de anos, com a separação das placas tectónicas africana e arábica e faz parte do sistema do grande vale do Rift.

O golfo de Aden é uma via marítima essencial para o petróleo do golfo Pérsico, tornando-o muito importante para a economia mundial. Possui muitas variedades de peixes, corais e outras criaturas marinhas, devido a sua baixa poluição. Os principais portos são Aden (no Iémen), Berbera e Bosaso (ambos na Somália).

 

Ele não é considerado seguro, visto que a Somália que lhe é limítrofe, é um país instável, e o Iêmen não possui forças de segurança suficientes na região. É uma das principais áreas de pirataria mundial, extremamente perigosa para a navegação. Além disso, vários ataques da guerrilha iemenita foram efetuados no golfo, como o do USS Cole.

 

Hutis (al-hutis ou houthis, em alusão ao nome dos seus dirigentes, Hussein Badreddine al-Houthi e seus irmãos) é a denominação mais comum do movimento político-religioso Ansar Allah, (em árabe: 'partidários de Deus') maioritariamente xiita zaidita (embora inclua também sunitas) do noroeste do Iêmen.

 

Hussein Badreddin al-Houthi, líder do grupo, foi morto em setembro de 2004, por forças do exército iemenita. Outros integrantes da liderança houthi, incluindo Ali al-Qatwani, Abu Haider, Abbas Aidah e Yousuf al-Madani (um genro de Hussein al-Houthi) também foram mortos pelas forças governamentais iemenitas.]

 

Em 2014, apoderaram-se de uma grande parte do país, incluindo a capital Saná. Em março de 2015, a Arábia Saudita criou uma coligação militar composta por cerca de quinze países, entre os quais os Emirados Árabes Unidos e o Egito, para derrotar os Houthis e repor no poder o governo do Presidente exilado Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi. Os Houthis mantiveram o controlo do antigo Iémen do Norte.

Parte do grupo tem sido referida como um "poderoso clã", denominado Ash-Shabab al-Mu'min ( em português, Jovens Crentes) .

 

A seguir um texto sobre a história da divisão política do Iêmen publicado originalmente no site https://www.doisniveis.com/oriente-medio/iemen-a-historia-de-um-pais-dividido/.

 

Trata-se de um texto descritivo e que vem bem a propósito do nosso blog.

 

Para um entendimento mais analítico ouça nosso podcast em

 https://podcasters.spotify.com/pod/show/isaiasalmeida


terça-feira, 9 de janeiro de 2024

GUERRA NA UCRÂNIA: IMPLICAÇÕES

 


GUERRA NA UCRÂNIA

 POR: ISAIAS ALMEIDA*

RESUMO

 

De dezembro de 2021 a janeiro de 2022, a Rússia tentou forçar uma negociação com o Ocidente para resolver a questão do armamento constante da Ucrânia, argumentando que isso colocava em risco a segurança da Rússia. Isso ocorreu depois de a Ucrânia, por instigação do Ocidente, continuar a se armar e atacando as regiões de maioria russa dentro da própria Ucrânia. Estimativas da ONU dão conta de 10 mil mortos nesses ataques desde 2014, quando um golpe na Ucrânia destituiu um presidente pró Rússia  colocando em seu lugar um presidente pró Ocidente. Na época, Odessa foi duramente castigada por resistir ao golpe e a Crimeia, depois de um plebiscito, decidiu ficar com a Rússia.

Houve uma frenética insistência Russa, inclusive com a divulgação, que a mídia Ocidental fez questão de ignorar, de documentos enviados a Washington pela chancelaria russa, pedindo uma rodada de negociações para evitar o pior.

Diante das negativas do Ocidente a Rússia foi forçada a entrar na Ucrânia para proteger o Dombas, região de maioria Russa. Assim, em fevereiro de 2022, tropas russas entraram em Donetsk, Karkov e outras regiões, o exército russo avançou até perto de Kiev, capital da Ucrânia. A essa altura a Rússia ainda queria evitar a guerra, já que na visão dos russos trata-se de uma guerra civil, são povos eslavos, com raízes no império russo.

Em março de 2022, a Rússia busca negociações para evitar a continuação das hostilidades, mas uma ação efetiva de Boris Johnson e dos EUA frustram as tentativas de negociação. Assim começa a guerra.

A Rússia invade os territórios e vários são anexados, mas a Ucrânia devidamente armada e treinada pelo Ocidente reage, reconquistam pequenas áreas, mas não detém o avanço russo.

Nesse ponto é preciso esclarecer, o Ocidente apostou nesse conflito com a esperança de quebrar a resistência russa à uma integração subordinada aos interesses da OTAN e dos EUA. Não funcionou.

Vejamos os objetivos do Ocidente:

- Desgastar a capacidade militar russa;

- Destruir a economia russa através de pesadas sansões;

- Criar uma crise interna de tal ordem que levasse a queda de Wladimir Putin.

Bem, nenhum dos três objetivos foram alcançados.

A indústria militar russa se reestruturou mais rápido do que o previsto, além de ter em alguns campos, uma clara vantagem tecnológica em relação ao Ocidente.

As sansões contra a economia russa provocou dois efeitos: levou a Rússia a aumentar seu comércio com Oriente e a Ásia, graças as suas imensas reservas de gás e petróleo e produtos agrícolas e, uma economia que se mostrou bastante resiliente aos boicotes ocidentais, além de ter capacidade de substituição de importações acima do esperando no Ocidente.

Acordos de longo prazo foram assinados entre Rússia e China e entre Rússia e Índia, uma maior aproximação com o Irã e a Coreia do Norte, garantiram a Rússia inclusive acesso a mais armamentos.

Enquanto as economias da Zona do euro despencam a Rússia vai ter crescimento. Asa previsões desse ano para o ano 2023 são de 2,8 para Rússia e 0,6 para a zona do euro

Outro efeito das sanções foi provocar, acelerar a crise na Europa A questão habitacional se tornou crônica. Na década de 1970 os europeus gastavam em média 1/5 do salário com aluguel, hoje pode variar de 50 a 70%, a solução para muitos tem sido se mudar para longe dos centros urbanos e vivenciar o que os trabalhadores do mundo em desenvolvimento vivenciam, ter que passar horas no transporte para o trabalho. Para o europeu é uma experiência nova.  

A destruição dos Nortstream, os grandes gasodutos partindo da Rússia com destino ao resto da Europa, orquestrada pelos EUA, colocou a Europa numa situação crítica, tendo que pagar aos americanos um valor até 7 vezes maior que o oferecido pelos russos. A classe trabalhadores nesses países é quem está sofrendo as consequências dessa estupidez.

Quanto a crise interna na Rússia com a derrubada de Putin, também não correu como previsto nos sonhos molhados dos otanicista e atlanticista.

Putin enfrentou uma tentativa de motim, organizada por Prigozhin, o homem do PMC Wagner, empresa privada militar, importante na conquista de Barkmut, o motim foi facilmente debelado e Prigozhin acabou morto. O episódio reforçou a autoridade de Putin e ao que tudo indica, uniu ainda mais o país.   

No terreno militar as coisas não vão nada bem para as forças Ocidentais. Em julho de 2023 foi anunciada, com pompa e circunstância, uma contraofensiva ucraniana que poria a Rússia de joelhos. Nós estamos em janeiro e, nada ainda.

A tal contraofensiva se deparou com uma bem armada defesa Rússia em toda a linha de contato. O exército ucraniano se viu preso em um moedor de carne em Barkhmut, (Artemovsk em russo). Depois de pesadas perdas em homens e equipamentos por parte dos ucranianos, a Rússia tomou Barkhmut, e agora mais recentemente conquistou Marinka e avança para Adveevka.

A questão militar será objeto de um boletim a parte.

Vamos tratar das implicações desse conflito. A brutal ofensiva ocidental em termos de sanções provocou vertigens no sul global, muitos países começaram a raciocinar da seguinte forma. Se um país desagrada ao império, eles simplesmente tomam todo o seu dinheiro? É assim que a banda toca?

Ah mais isso é com a Rússia. Acontece que a Rússia é uma potência nuclear, se faz isso com a Rússia, o que não fará conosco? Veja a Venezuela, foi literalmente roubada. Ai já viu, um monte de gente fez fila nas portas dos BRICS.

2023 marca um momento em que o grito de liberdade se transformou na seguinte expressão: Desdolarização. Resultado, a 20 anos atrás 70% das transações internacionais entre países eram feitas em dólar, hoje está em 50%. Só não caiu mais ainda por que a China tem zilhões de ativos em dólar, mas tanto China quanto outros países vêm diminuindo sua participação na farra que os EUA fazem com sua moeda.   

Os BRICS tomaram um novo folego ao serem vistos cada vez mais com uma alternativa ao ”mundo baseado em regras do Ocidente”, as regras deles, para benefício deles claro.

Como está cada vez mais evidente que a guerra na Ucrânia não vai dar os frutos pretendidos o Ocidente se volta cada vez mais para a crise no Oriente Médio, para além do genocídio em Gaza, está a questão de controlar o Oriente. Durante muito tempo os EUA nadaram de braçada na região, manietando os conflitos regionais a seu bel prazer.

Um dos atos mais perversos foi o ataque ao Iraque para que este se pusesse sob seu controle. Fracassou na medida em que, mesmo derrubando Saddam com toda sorte de mentiras, não conseguiu estabelecer um controle efetivo da região. O Iraque, pós invasão, se tornou uma terra arrasada com altas no custo de vida, parte da população na pobreza quase absoluta, e nada de reconstrução do país, muito menos da sua economia. Resultado, o Iraque está cada vez mais próximo da China e da Rússia, com o atual governo trabalhando ativamente para se livrar de uma vez por todas, da presença militar americana.

O Afeganistão vivou um atoleiro do qual os EUA saíram com o rabo entre as pernas, e gente pendurada nos aviões.

A Síria foi destruída por puro capricho, sem nenhuma necessidade, sem nenhum ganho visível, para o povo sírio certamente não, está sendo salva pela Rússia, que está ajudando o país a lutar contra terroristas manietados pelos EUA.

Enfim onde o império colocou suas botas, não cresceu prosperidade, não melhorou a vida das pessoas, nem ele conseguiu se estabelecer de forma consistente.

A bola da vez é a Palestina e, logo ali na esquina, Taiwan.      

                

 *Professor aposentado das redes públicas e privadas. Especialista em Historia do Brasil. 

 

sábado, 6 de janeiro de 2024

GAZA: Verdadeiro genocídio

 

Verdadeiro genocídio

 


Israel é culpado de verdadeiro genocídio, pelo menos parcial, porque a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio oferece a seguinte definição no seu Artigo II:

 

“Na presente Convenção, genocídio significa qualquer um dos seguintes atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:

 

a) assassinato de membros do grupo;

b) lesão grave à integridade física ou mental dos membros do grupo;

c) submeter deliberadamente o grupo a condições de vida destinadas a provocar a sua destruição física, total ou parcial;

d) medidas destinadas a prevenir nascimentos dentro do grupo;

e) transferência forçada de crianças de um grupo para outro. ”


Deixando de lado o elemento indescritível da “intenção”, é claro que a, b e c se aplicam ao caso palestiniano. Na verdade, à questão colocada pela Time, Raz Segal, um judeu israelita que vive nos Estados Unidos e dirige o programa de estudos do Holocausto e do genocídio na Universidade de Stockton, responde que a operação desencadeada por Netanyahu contra Gaza "é um caso clássico de genocídio". Até mesmo uma comissão de peritos das Nações Unidas conclui que "os palestinianos correm grave risco de genocídio", e o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, tal como muitos líderes árabes, condenou Israel pelos seus crimes de guerra e, explicitamente, pela tentativa de genocídio.

terça-feira, 8 de agosto de 2023

LEVANTE ANTICOLONIAL NO NÍGER

 

Imagem AFP

Milhares de pessoas estão mobilizadas nas ruas para apoiar o Conselho Nacional de Proteção à Pátria, o grupo de oficiais que assumiu as rédeas do país, com palavras de ordem e palavras de ordem contra seu ex-colonizador: " Abaixo a França", " Saia das bases estrangeiras", "Por uma nova ordem", "Niger to Nigeriens".

Os acontecimentos no Níger mostram a precarização e falência do imperialismo francês. os povos de África que tiveram o prazer macabro da dominação europeia segue se levantando, dessa vez, para expulsar as dorças de ocupação do seu território via bases militares, empresas privadas de segurança para defender a exploração dos recursos naturais da região.

Os projetos mais ambiciosos dos europeus no meio ambiente se assentam no controle de países africanos, onde países da Europa projetam grandes estruturas para garantir energia limpa no continente europeu às custas do povo africanos.

Os movimentos atuais nos países africanos indicam que não será tão simples assim. Vejam o que esta acontecendo no Níger nessa mateira do Antidiplimatico. LEIA AQUI     

quarta-feira, 19 de julho de 2023

SCO - IRÃ? PRESENTE

 

Depois de um processo há muito esperado de 15 anos, o Irã finalmente alcançou um marco significativo em 4 de julho: a adesão plena à prestigiada Organização de Cooperação de Xangai (SCO), a mais importante aliança de segurança do leste.

Este evento marcante não apenas marcou o Irã como a primeira nação da Ásia Ocidental a se juntar a este poderoso grupo asiático dedicado à segurança, economia e cooperação humanitária, mas também solidificou a posição da SCO com uma linha formidável de membros, incluindo China, Índia, Tadjiquistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão, Rússia, Paquistão e agora Irã.

Veja como esse processo se deu nesse artigo do Mohamad Hasan Sweidan no The CRADEL  

quarta-feira, 7 de junho de 2023

A ACERTADA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

 

A ACERTADA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

 

 

 

O Governo Lula, mais especificamente o próprio presidente Lula, acertadamente construiu, em tempo ágil, uma cúpula sul americana da maior importância.

A cimeira reuniu os chefes de estado de todos os países sul-americanos num momento singular da geopolítica internacional.

Com esse evento, Lula põe o subcontinente na crista da onda, dá um F5 na América do Sul, observando sagazmente o movimento em curso no mundo.

Que movimento é esse? A reorganização geopolítica do mundo rumo a formação de blocos regionais fortes.

Apenas para ficar no obvio: na Ásia, temos a ANSEAN, que reúne as nações do Sudeste da Ásia, UA União Africana, a SCO Organização para a cooperação de Xangai, a UEE União Econômica Eurasiática, a EU União Europeia etc.

No âmbito da América do Sul só tínhamos o Mercosul depois veio Unasul, mais antiga a Comunidade Andina, em 1998 é formada a ACTO Organização do Tratado de Cooperação Amazônica. As inúmeras dificuldades dos países sul americanos bem como a diversidade, a intervenção constante do imperialismo dificultou o funcionamento dessas iniciativas em vários níveis, inclusive com a infame dívida eterna a que muitos no subcontinente estão submetidos.

Dai a importância da iniciativa de Lula. Ela se coloca num momento de crise e tensões no centro do sistema. O grande Hegemon encontra-se atolado na Ucrânia, um atoleiro auto infligido, com volumes absurdos de recursos, a pauperização da Europa e a derrota cada dia mais evidente da OTAN frente ao exército russo.

De outro lado temos a emergência de novos centros de poder, notadamente o acentuado pêndulo do poder econômico em direção a Ásia com a China ultrapassando os EUA em várias áreas e a EURASIA, com a liderança da Rússia.

 

As possibilidades abertas à América do Sul

 

Esse cenário cria uma oportunidade única para nós, sul americanos, de avançarmos na construção de uma sociedade melhor.

O subcontinente americano é rico em recursos naturais petróleo, áreas agrícolas, um setor agroexportador bastante avançado. Temos algumas das maiores reservas de lítio conhecidas do planeta. Além do ouro, cobre e prata explorados desde os tempos coloniais temos grandes reservas de ferro, diamante, chumbo, zinco, manganês, estanho bauxita e gás natural. Recentemente o México propôs aos países da região a   criação de uma espécie de OPEP do lítio.

Contamos ainda com cerca de 12% da superfície terrestre e 6% da população global. Somos banhados pelo Mar do Caribe e pelos oceanos Pacifico e Atlântico               

 

O subcontinente tem assim objetivamente condições de formar um bloco econômico forte o suficiente para se tornar um player mundial. A iniciativa do presidente Lula baseia-se muito nessa crença. Numa percepção de que, sim temos enormes problemas, mas ao mesmo tempo temos enormes possibilidades.

 Nossos eternos dilemas

Apesar das condições objetivas, o subcontinente encontra-se enterrado sob a esfera de influência dos EUA. Resulta disso burguesias clientes do capital norte americano que, com aprofundamento do domínio do capital rentista nos EUA, se submetem a essa lógica depreciando sua industrialização.

Os EUA atuaram ativamente na região financiando, influenciando, fomentando partidos políticos que, uma vez no poder, implementam uma lógica de desmonte do Estado de privatizações de grandes empresas chaves dos serviços básicos à população.

O efeito dessa lógica deleitaria na região são o aumento da pobreza, as dificuldades de acesso a serviços básicos. As empresas públicas objeto de privatizações são adquiridas por fundos de investimento, bancos e outras empresas multinacionais a preços depreciados

Resulta daí que nossa direita e ultradireita é, essencialmente e contraditoriamente entreguista. Abusam dos símbolos nacionais, juram amores a pátria, mas entrega o patrimônio nacional a preço de banana e em desfavor das suas populações.  

No entanto, em momentos como a atual onde emergem governo progressistas nos principais países da região renascem as esperanças de que uma articulação regional possa atuar na superação dos enormes problemas das populações mais pobres, articular políticas econômicas de incentivo ao desenvolvimento de uma

economia regional voltada para o desenvolvimento e incremento de uma produção industrial, para a autossuficiência alimentar, uma indústria naval própria e, em perspectiva, segurança militar na região.

 

Essa é a dimensão da iniciativa do governo Lula e sua visão das possiblidades abertas ao subcontinente sul americano.          

 

 

Isaias Jose de Almeida Neto

Pós-graduado em História do Brasil

Professor Aposentado redes públicas e privada de ensino da Educação básica e Superior              

quarta-feira, 24 de maio de 2023

BRICS - Pegue sua senha

 

Depois de ver seu PIB ultrapassar o PIB do G,7 os BRICS não param de receber solicitações de novos integrantes. Além da força econômica, os BRICS têm outro atrativo que tem seduzidos os outros países: cooperação, desenvolvimento, comércio, não interferência na vida alheia. Resultado tai a lista de novos pretendentes. E a distribuição de senhas ainda não terminou.

 

 A


rgel, Argentina, Afeganistão, Bangladeche,

Bahrein, Bielorrússia, Venezuela, Egito,

Zimbábue, Indonésia, Irã, Cazaquistão,

México, Nigéria, Nicarágua, Emirados Árabes Unidos,

Paquistão, Arábia Saudita, Senegal, Síria,

Sudão, Tailândia, Tunísia, Peru,

Uruguai

quinta-feira, 18 de maio de 2023

CÚPULA CHINA - ÁSIA CENTRAL

       

    DIPLOMACIA CHINA  

    A cúpula China-Ásia Central testemunhará a assinatura de uma série de documentos em comércio, investimento, conectividade e outros campos.

    Encontro histórico para injetar ímpeto na cooperação de alta qualidade da BRI. (Belt and road Initiative.)

    A China através da BRI, vai aprofundar nessa cimeira com os países da Ásia Central, novos acordos e medidas de implantação da Nova Rota da Seda.

    Xi fará um discurso de abertura na cúpula, expondo a posição da China sobre como construir a comunidade China-Ásia Central com um futuro compartilhado, visando o desenvolvimento de longo prazo para a cooperação entre os seis países, apresentando uma série de proposições e anunciando múltiplas medidas e ações pragmáticas.

    A BRI compreende um Cinturão Econômico da Rota da Seda – uma passagem transcontinental que liga a China ao sudeste da Ásia, sul da Ásia, Ásia Central, Rússia e Europa por terra – e uma Rota da Seda Marítima do século XXI, uma rota marítima que conecta as regiões costeiras da China com sudeste e sul da Ásia, Pacífico Sul, Oriente Médio e África Oriental, até a Europa.


    Participam dessa cúpula: Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão

     

    A iniciativa define cinco grandes prioridades:

     

    coordenação de políticas;

    conectividade de infraestrutura;

    comércio desimpedido;

    integração financeira;

    e conectando pessoas.

    Detalhe: E nenhuma bala, nem armamento algum.

    Leia mais 

terça-feira, 4 de abril de 2023

RESOLUÇÃO DA ONU CONTRA SANÇÕES

 A ONU aprovou uma resolução condenando sanções ilegais por violarem os direitos humanos.

O curioso no episódio foi a votação , repare,  na tabela abaixo, que de fato Borell* e os EUA têm razão, o jardim esta isolado. Os EUA, maior aplicador de sanções e a Europa que o segue, estão sozinhos na negativa à aprovação da resolução. O Sul Global, leia-se o resto do mundo, esta unido contra eles.

Tabela vindo do twitter de Ben Norton
   

 PS: O tal do Josef Borrell, é o cara que disse que a Europa é um jardim , cercado por uma selva. Ou seja , eles são a lindeza do mundo e o resto do mundo são animais selvagens de quem o jardim tem que se defender. 

sexta-feira, 31 de março de 2023

Direito Humanos nos EUA

 Relatório sobre os direito humanos nos EUA

É uma leitura muito instrutiva já que os EUA são mestres em apontar os defeitos dos outros países no que se refere aos direitos humanos.  Esta em inglês, mas basta usar o tradutor do google. 

Leia a íntegra AQUI

Mundo multipolar

 

O mundo já é multipolar

Por: Isaias Almeida

 

 

Já temos um mundo multipolar, isso porque não existe mais um único polo de desenvolvimento no mundo.

Os EUA seguem sendo uma grande potência, a maior do mundo em termos militares, mas seu domínio ancorado nas armas e no dólar está sendo questionado.

O pressuposto da unipolaridade seria a existência de uma única potência com poder de subjugar os demais países do mundo, Isso já não é verdade.

 

Primeiro porque existem outros países capazes de enfrentar o mundo norte americano.

A china faz esse desafio no plano econômico. Não há uma política de beligerância por parte da China, em nenhum momento a China se mostrou imperialista. Seja nos pronunciamentos de suas lideranças, seja nos planos econômicos, seja nas relações exteriores com as nações com quem negocia. Então, “A China como uma ameaça” é uma criação dos EUA vendida pelos norte-americanos para a Europa e, desde muito tempo, tentativa de vender para o resto do mundo.

 

Segundo a existência de uma Rússia forte, independente, soberana.

Após a farra dos Havard boys com o bêbado do Boris Yeltsin, a Rússia foi reduzida a quase nada, a ponto de líderes dos Estados Unidos compara-la a um grande posto de gasolina e nada mais. Mas, eis que a Rússia foi capaz de ressurgir, aparecer no cenário mundial como gente grande, soberana e independente.

O fato é que tanto China quanto a Rússia, muito mais a China, são países capazes de sobreviver sem ajuda norte americana. Esse fato é evidenciado na capacidade de se defender, na capacidade de tocar sua economia de forma autônoma, na capacidade de garantir sua segurança alimentar.

 

Lá nos anos 90, pós queda da União Soviética, não estava no horizonte próximo dos estados unidences, a perspectiva de que China, Rússia e outras nações como indonésia, Irã, Paquistão, Bolívia, México fosse capaz de se autonomizar ao ponto de desafiar em alguma medida seja qual fosse a medida o domínio americano.

No entanto, ao menos economicamente esses países ou se desenvolveram a tal ponto ou estabeleceram relações com a Rússia e a China de tal forma, que passaram a dizer não, sempre que oportuno e preciso, aos EUA.

 

Dois fatos recentes bastante espantosos foram a recusa da Arábia Saudita e da Rússia, no âmbito da OPEP terem se recusado a aumentar a produção de petróleo, apesar de um pedido ruidoso, explicito, aberto do governo dos Estados Unidos. Biden voou para Riad com esse propósito e, voltou de mãos vazias. Diversos países efetivamente estão realizando transações de grande vulto, estratégicas, em outras moedas que não o dólar, com destaque para o yuan chinês. Esses fatos não estavam no radar da RAND Corporation, ou do Washington Institute , ou do Houston Council.  

 

Mas o mundo andou. A China venceu a corrida da globalização, se agigantou nesse processo e começou a estabelecer relações externas propondo não a submissão econômica ou a intromissão política nos negócios de seus parceiros comerciais, mas relações de fato bilaterais, sem precondições, sem interferências, em boa parte baseadas na ideia do ganha a ganha, benefícios mútuos, rompendo com o padrão americano de pressão econômica ou militar ou ambas.

Esse comportamento chinês é que constitui a tal “ameaça chinesa” na percepção dos Estados Unidos.

 

Esse cenário atual criou e vem consolidando dia a dia o mundo multipolar. Mesmo que não se queira admitir o fato que existe uma multipolaridade não consolidada é verdade, mas ao mesmo tempo irreversível. O mundo não voltara a ser unipolar apesar da reação americana.

 

De fato, há um esforço americano nesse sentido. O governo americano, aproveitando a SMO russo na Ucrânia, acelerou a decadência/dependência europeia de forma espantosa, explodindo os gasodutos que garantiam gás e petróleo russo barato para a Europa. Com isso a Alemanha, maior economia europeia, foi nocauteada, a essa altura, de forma quase irreversível, se submetendo completamente aos interesses dos EUA. A Inglaterra, de a muito não tem autonomia alguma em política externa, dança conforme a música de Washington.

 

A retirada humilhante do Afeganistão fez parte de uma estratégia de focar em dois pontos centrais, o cerco à Rússia com a expansão da OTAN, e a obsessão em frear o crescimento da China.

O plano Americano contava a possibilidade de a Rússia assistir passivamente a expansão da OTAN, afinal já tinha tolerado muito. A possibilidade de incorporar a Ucrânia, alimentava a possibilidade de fazê-lo sem uma reação de Moscou que deveria se dar por satisfeita com a incorporação da Crimeia. Faltou combinar com os russos.

A reação da Rússia virou um problemão na medida em que já estava em andamento um endurecimento com a China, tanto é que ainda é motivo de discussão em Washington se eles podem arcar com duas frentes simultâneas, embora as forças que defendem que sim esteja no comando atualmente.   

Seja como for, a guerra na Ucrânia, atrapalha a estratégia de cercar a China na medida em que, como qualquer guerra exige muito em energias, recursos, gastos enquanto a China plana tranquilamente reforçando seu caixa, expandindo suas relações externas, influenciando economicamente várias regiões, sem as pressões de um conflito armado. A corrida da China para ultrapassar os EUA vai de vento em popa. É muito duvidoso que as sanções, no patamar atual, sejam suficientes para parar ou desacelerar a China.

Claro, existem as movimentações americanas no Pacifico com objetivo de cercar militarmente a China, mas duvido da capacidade de tais movimentações frear o desenvolvimento chinês. Segundo alguns analistas existem 43 itens que definem a liderança tecnológica de um país, os chineses dominam 37 desses itens, sendo o domínio dos semicondutores uma espécie de fronteira final nessa corrida.

O mundo multipolar está aí, confuso, ainda não definido, sem contornos nítidos, mas está aí.         

Isaias Almeida

Professor aposentado

pós graduado em Historia do Brasil


domingo, 26 de março de 2023

EUA retomam roubo de petróleo na Síria

EUA retomam roubo de petróleo sírio horas após ataque impiedoso a bases de ocupação


 Por: News Desk

Em 25 de março, o exército dos EUA contrabandeou pelo menos 80 caminhões-tanque carregados com centenas de toneladas de petróleo sírio roubado da região de Jazira, rica em recursos do país, para suas bases no Iraque.

Os caminhões-tanque foram retirados da Síria como parte de um comboio de 148 veículos que cruzou a fronteira ilegal de Al-Walid na madrugada de sábado, segundo fontes locais que falaram com a SANA . 

Outros veículos no comboio dos EUA incluíam caminhões refrigerados e veículos blindados, disseram as fontes.

A mais recente operação de roubo de petróleo de Washington ocorreu poucas horas depois que suas bases de ocupação nos campos petrolíferos de Conoco e Al-Omar, no nordeste da Síria, foram atingidas por ataques de mísseis e drones em retaliação a um ataque aéreo dos EUA na sexta-feira na província de Deir Ezzor, que deixou vários sírios mortos.

 

De acordo com fontes de campo que falaram com Al Mayadeen, a base de ocupação no campo Conoco foi atingida por mais de 15 mísseis. Falando com a TV Al Jazeera, uma autoridade dos EUA disse que uma das bases foi atingida por “oito foguetes”.

A mídia americana citou o Pentágono dizendo que os ataques deixaram várias vítimas. No entanto, não foram fornecidos mais detalhes.

Nenhum grupo assumiu a responsabilidade pelo ousado ataque, que marcou a terceira operação armada bem-sucedida contra as tropas americanas na Síria em 24 horas.

Comentando os ataques aéreos de sexta-feira - lançados da Base Aérea de Al-Udeid no Catar - o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que seu país está preparado para "agir com força para proteger nosso povo", acrescentando que os EUA "não buscam conflito com o Irã".

A operação de roubo de petróleo de sábado marcou a terceira vez que as tropas americanas saquearam os recursos da Síria desde que o país foi atingido por um terremoto devastador em 6 de fevereiro.

Washington mantém aproximadamente 900 soldados na Síria, divididos principalmente entre a base de Al-Tanf e a região nordeste do país. Sua ocupação é ilegal sob a lei internacional, pois foi realizada sem a aprovação do governo.

Embora as tropas dos EUA – acompanhadas por combatentes das Forças Democráticas da Síria (SDF) – ocupassem inicialmente grandes áreas da Síria sob o pretexto de combater o ISIS, a justificativa oficial para a ocupação mudou quando o ISIS foi amplamente derrotado.

 

Em comentários infames feitos em 2019, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, disse: “Estamos mantendo o petróleo [da Síria]. Nós temos o óleo. O óleo é seguro. Deixamos as tropas para trás apenas pelo petróleo. ” 

De acordo com uma investigação do The Cradle, dezenas de navios-tanque passam por travessias ilegais entre o Iraque e a Síria todas as semanas em comboios acompanhados por aviões de guerra ou helicópteros dos EUA.

Pastores da região corroboram essas afirmações, dizendo que o petróleo sírio é transportado para o local militar de Al-Harir em Erbil, capital da Região do Curdistão Iraquiano (IKR), região conhecida como “hub” para agências de espionagem ocidentais e israelenses.

Em agosto do ano passado, o Ministério das Relações Exteriores da Síria afirmou que as perdas sofridas pelo setor de petróleo e gás do país como resultado das ações dos EUA totalizaram US$ 107 bilhões desde o início da crise síria em 2011.



sexta-feira, 24 de março de 2023

Rumo ao mundo multipolar

"Esta semana, em Moscou, os líderes chinês e russo revelaram seu compromisso conjunto de redesenhar a ordem global, um empreendimento que 'não era visto há 100 anos'.

Por Pepe Escobar


O que acaba de acontecer em Moscou é nada menos que uma nova Yalta, que, aliás, fica na Crimeia. Mas, ao contrário do importante encontro do presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt, do líder soviético Joseph Stalin e do primeiro-ministro britânico Winston Churchill na Crimeia administrada pela URSS em 1945, esta é a primeira vez em possivelmente cinco séculos que nenhum líder político do ocidente está definindo o cenário global.


São o presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, que agora comandam o show multilateral e multipolar. Os excepcionalistas ocidentais podem implantar suas rotinas de bebê chorão o quanto quiserem: nada mudará a ótica espetacular e a substância subjacente desta ordem mundial em desenvolvimento, especialmente para o Sul Global.

 

O que Xi e Putin pretendem fazer foi explicado em detalhes antes de sua cúpula, em dois artigos de opinião escritos pelos próprios presidentes. Como um balé russo altamente sincronizado, a visão de Putin foi apresentada no People's Daily na China, com foco em uma "parceria voltada para o futuro", enquanto a de Xi foi publicada no Russian Gazette e no site da RIA Novosti, com foco em um novo capítulo na cooperação e desenvolvimento comum.

 

Desde o início da cúpula, os discursos de Xi e Putin levaram a multidão da OTAN a um frenesi histérico de raiva e inveja: a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, captou perfeitamente o clima quando observou que o Ocidente estava “espumando pela boca. ”

 

A primeira página do Russian Gazette na segunda-feira foi icônica: Putin visitando Mariupol livre de nazistas, conversando com os residentes, lado a lado com o Op-Ed de Xi. Essa foi, em poucas palavras, a resposta concisa de Moscou ao golpe do MQ-9 Reaper de Washington e às travessuras do tribunal canguru do Tribunal Penal Internacional (ICC). “Espuma na boca” o quanto quiser; A OTAN está sendo completamente humilhada na Ucrânia.

 

Durante sua primeira reunião “informal”, Xi e Putin conversaram por nada menos que quatro horas e meia. No final, Putin acompanhou pessoalmente Xi até sua limusine. Essa conversa foi real: mapear os lineamentos da multipolaridade – que começa com uma solução para a Ucrânia.

 

Previsivelmente, houve muito poucos vazamentos dos sherpas, mas houve um bastante significativo em seu “intercâmbio aprofundado” sobre a Ucrânia. Putin enfatizou educadamente que respeita a posição da China – expressa no plano de resolução de conflitos de 12 pontos de Pequim, que foi completamente rejeitado por Washington. Mas a posição russa permanece rígida: desmilitarização, neutralidade ucraniana e consagração dos novos fatos no terreno.

 

Paralelamente, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia descartou completamente o papel dos EUA, Reino Unido, França e Alemanha nas futuras negociações com a Ucrânia: eles não são considerados mediadores neutros.

 

Uma colcha de retalhos multipolar

 

O dia seguinte foi todo sobre negócios: tudo, desde energia e cooperação “técnico-militar” até a melhoria da eficácia dos corredores comerciais e econômicos que atravessam a Eurásia.

 

A Rússia já ocupa o primeiro lugar como fornecedor de gás natural para a China – superando o Turcomenistão e o Catar – a maior parte por meio do gasoduto Power of Siberia de 3.000 km que vai da Sibéria à província de Heilongjiang, no nordeste da China, lançado em dezembro de 2019. Negociações sobre o Power of Siberia II gasoduto via Mongólia está avançando rapidamente.

 

A cooperação sino-russa em alta tecnologia vai explodir: 79 projetos em mais de US$ 165 bilhões. Tudo, desde gás natural liquefeito (GNL) até construção de aeronaves, construção de máquinas-ferramenta, pesquisa espacial, agroindústria e corredores econômicos atualizados.

 

O presidente chinês disse explicitamente que deseja vincular os projetos da Nova Rota da Seda à União Econômica da Eurásia (EAEU). Esta interpolação BRI-EAEU é uma evolução natural. A China já assinou um acordo de cooperação econômica com a EAEU. As ideias do superestrategista macroeconômico russo Sergey Glazyev estão finalmente dando frutos.

 

E por último, mas não menos importante, haverá um novo impulso para acordos mútuos em moedas nacionais – e entre a Ásia e a África e a América Latina. Para todos os efeitos práticos, Putin endossou o papel do yuan chinês como a nova moeda comercial de escolha enquanto as complexas discussões sobre uma nova moeda de reserva lastreada em ouro e/ou commodities continuam.

 

Essa ofensiva econômica/empresarial conjunta se relaciona com a ofensiva diplomática concertada Rússia-China para refazer vastas áreas da Ásia Ocidental e da África.

 

A diplomacia chinesa funciona como a  matryoshka  (bonecas russas empilháveis) em termos de transmissão de mensagens sutis. Não é coincidência que a viagem de Xi a Moscou coincida exatamente com o 20º aniversário do 'Choque e Pavor' americano e da invasão, ocupação e destruição ilegais do Iraque.

 

Paralelamente, mais de 40 delegações da África chegaram a Moscou um dia antes de Xi para participar de uma conferência parlamentar “Rússia-África no Mundo Multipolar” – uma preparação para a segunda cúpula Rússia-África em julho próximo.

 

A área ao redor da Duma parecia exatamente com os velhos tempos do Movimento Não-Alinhado (NAM), quando a maior parte da África mantinha relações anti-imperialistas muito próximas com a URSS.

 

Putin escolheu este exato momento para amortizar mais de US$ 20 bilhões em dívidas africanas.

 

Na Ásia Ocidental, Rússia-China estão agindo em total sincronia. Ásia Ocidental. A reaproximação saudita-iraniana foi realmente impulsionada pela Rússia em Bagdá e Omã: foram essas negociações que levaram à assinatura do acordo em Pequim. Moscou também está coordenando as discussões de reaproximação Síria-Turquia. A diplomacia russa com o Irã – agora sob o status de parceria estratégica – é mantida em um caminho separado.

 

Fontes diplomáticas confirmam que a inteligência chinesa, por meio de suas próprias investigações, agora está totalmente segura da vasta popularidade de Putin em toda a Rússia e até mesmo dentro das elites políticas do país. Isso significa que conspirações do tipo mudança de regime estão fora de questão. Isso foi fundamental para a decisão de Xi e Zhongnanhai (quartel-general central da China para funcionários do partido e do Estado) de “apostar” em Putin como um parceiro de confiança nos próximos anos, considerando que ele pode concorrer e vencer as próximas eleições presidenciais. A China é sempre sobre continuidade.

 

Assim, a cúpula de Xi-Putin selou definitivamente a China-Rússia como parceiros estratégicos abrangentes para o longo prazo, comprometidos em desenvolver uma competição geopolítica e geoeconômica séria com as hegemonias ocidentais em declínio.

 

Este é o novo mundo nascido em Moscou esta semana. Putin a definiu anteriormente como uma nova política anticolonial. Agora está disposto como uma colcha de retalhos multipolar. Não há como voltar atrás na demolição dos restos da Pax Americana.

 

'Mudanças que não aconteciam há 100 anos'

 

Em Before European Hegemony: The World System 1250-1350 AD, Janet Abu-Lughod construiu uma narrativa cuidadosamente construída mostrando a ordem multipolar prevalecente quando o Ocidente “ficou atrás do 'Oriente'”. Orient 'estava temporariamente em desordem.

 

Podemos estar testemunhando uma mudança histórica semelhante em formação, atravessada por um renascimento do confucionismo (respeito pela autoridade, ênfase na harmonia social), o equilíbrio inerente ao Tao e o poder espiritual da Ortodoxia Oriental. Esta é, de fato, uma luta civilizacional.

 

Moscou, finalmente dando as boas-vindas aos primeiros dias ensolarados da primavera, forneceu esta semana uma ilustração maior do que a vida de “semanas em que as décadas acontecem” em comparação com “décadas em que nada acontece”.

 

Os dois presidentes se despedem de maneira comovente.

 

Xi: “Agora, há mudanças que não aconteciam há 100 anos. Quando estamos juntos, impulsionamos essas mudanças. ”

Putin: “Eu concordo. ”

Xi: “Cuide-se, querido amigo. ”

Putin: “Faça uma boa viagem. ”

 

Um brinde ao amanhecer de um novo dia, das terras do Sol Nascente às estepes da Eurásia.

Publicado orginalmente no The Cradle

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