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terça-feira, 9 de janeiro de 2024

GUERRA NA UCRÂNIA: IMPLICAÇÕES

 


GUERRA NA UCRÂNIA

 POR: ISAIAS ALMEIDA*

RESUMO

 

De dezembro de 2021 a janeiro de 2022, a Rússia tentou forçar uma negociação com o Ocidente para resolver a questão do armamento constante da Ucrânia, argumentando que isso colocava em risco a segurança da Rússia. Isso ocorreu depois de a Ucrânia, por instigação do Ocidente, continuar a se armar e atacando as regiões de maioria russa dentro da própria Ucrânia. Estimativas da ONU dão conta de 10 mil mortos nesses ataques desde 2014, quando um golpe na Ucrânia destituiu um presidente pró Rússia  colocando em seu lugar um presidente pró Ocidente. Na época, Odessa foi duramente castigada por resistir ao golpe e a Crimeia, depois de um plebiscito, decidiu ficar com a Rússia.

Houve uma frenética insistência Russa, inclusive com a divulgação, que a mídia Ocidental fez questão de ignorar, de documentos enviados a Washington pela chancelaria russa, pedindo uma rodada de negociações para evitar o pior.

Diante das negativas do Ocidente a Rússia foi forçada a entrar na Ucrânia para proteger o Dombas, região de maioria Russa. Assim, em fevereiro de 2022, tropas russas entraram em Donetsk, Karkov e outras regiões, o exército russo avançou até perto de Kiev, capital da Ucrânia. A essa altura a Rússia ainda queria evitar a guerra, já que na visão dos russos trata-se de uma guerra civil, são povos eslavos, com raízes no império russo.

Em março de 2022, a Rússia busca negociações para evitar a continuação das hostilidades, mas uma ação efetiva de Boris Johnson e dos EUA frustram as tentativas de negociação. Assim começa a guerra.

A Rússia invade os territórios e vários são anexados, mas a Ucrânia devidamente armada e treinada pelo Ocidente reage, reconquistam pequenas áreas, mas não detém o avanço russo.

Nesse ponto é preciso esclarecer, o Ocidente apostou nesse conflito com a esperança de quebrar a resistência russa à uma integração subordinada aos interesses da OTAN e dos EUA. Não funcionou.

Vejamos os objetivos do Ocidente:

- Desgastar a capacidade militar russa;

- Destruir a economia russa através de pesadas sansões;

- Criar uma crise interna de tal ordem que levasse a queda de Wladimir Putin.

Bem, nenhum dos três objetivos foram alcançados.

A indústria militar russa se reestruturou mais rápido do que o previsto, além de ter em alguns campos, uma clara vantagem tecnológica em relação ao Ocidente.

As sansões contra a economia russa provocou dois efeitos: levou a Rússia a aumentar seu comércio com Oriente e a Ásia, graças as suas imensas reservas de gás e petróleo e produtos agrícolas e, uma economia que se mostrou bastante resiliente aos boicotes ocidentais, além de ter capacidade de substituição de importações acima do esperando no Ocidente.

Acordos de longo prazo foram assinados entre Rússia e China e entre Rússia e Índia, uma maior aproximação com o Irã e a Coreia do Norte, garantiram a Rússia inclusive acesso a mais armamentos.

Enquanto as economias da Zona do euro despencam a Rússia vai ter crescimento. Asa previsões desse ano para o ano 2023 são de 2,8 para Rússia e 0,6 para a zona do euro

Outro efeito das sanções foi provocar, acelerar a crise na Europa A questão habitacional se tornou crônica. Na década de 1970 os europeus gastavam em média 1/5 do salário com aluguel, hoje pode variar de 50 a 70%, a solução para muitos tem sido se mudar para longe dos centros urbanos e vivenciar o que os trabalhadores do mundo em desenvolvimento vivenciam, ter que passar horas no transporte para o trabalho. Para o europeu é uma experiência nova.  

A destruição dos Nortstream, os grandes gasodutos partindo da Rússia com destino ao resto da Europa, orquestrada pelos EUA, colocou a Europa numa situação crítica, tendo que pagar aos americanos um valor até 7 vezes maior que o oferecido pelos russos. A classe trabalhadores nesses países é quem está sofrendo as consequências dessa estupidez.

Quanto a crise interna na Rússia com a derrubada de Putin, também não correu como previsto nos sonhos molhados dos otanicista e atlanticista.

Putin enfrentou uma tentativa de motim, organizada por Prigozhin, o homem do PMC Wagner, empresa privada militar, importante na conquista de Barkmut, o motim foi facilmente debelado e Prigozhin acabou morto. O episódio reforçou a autoridade de Putin e ao que tudo indica, uniu ainda mais o país.   

No terreno militar as coisas não vão nada bem para as forças Ocidentais. Em julho de 2023 foi anunciada, com pompa e circunstância, uma contraofensiva ucraniana que poria a Rússia de joelhos. Nós estamos em janeiro e, nada ainda.

A tal contraofensiva se deparou com uma bem armada defesa Rússia em toda a linha de contato. O exército ucraniano se viu preso em um moedor de carne em Barkhmut, (Artemovsk em russo). Depois de pesadas perdas em homens e equipamentos por parte dos ucranianos, a Rússia tomou Barkhmut, e agora mais recentemente conquistou Marinka e avança para Adveevka.

A questão militar será objeto de um boletim a parte.

Vamos tratar das implicações desse conflito. A brutal ofensiva ocidental em termos de sanções provocou vertigens no sul global, muitos países começaram a raciocinar da seguinte forma. Se um país desagrada ao império, eles simplesmente tomam todo o seu dinheiro? É assim que a banda toca?

Ah mais isso é com a Rússia. Acontece que a Rússia é uma potência nuclear, se faz isso com a Rússia, o que não fará conosco? Veja a Venezuela, foi literalmente roubada. Ai já viu, um monte de gente fez fila nas portas dos BRICS.

2023 marca um momento em que o grito de liberdade se transformou na seguinte expressão: Desdolarização. Resultado, a 20 anos atrás 70% das transações internacionais entre países eram feitas em dólar, hoje está em 50%. Só não caiu mais ainda por que a China tem zilhões de ativos em dólar, mas tanto China quanto outros países vêm diminuindo sua participação na farra que os EUA fazem com sua moeda.   

Os BRICS tomaram um novo folego ao serem vistos cada vez mais com uma alternativa ao ”mundo baseado em regras do Ocidente”, as regras deles, para benefício deles claro.

Como está cada vez mais evidente que a guerra na Ucrânia não vai dar os frutos pretendidos o Ocidente se volta cada vez mais para a crise no Oriente Médio, para além do genocídio em Gaza, está a questão de controlar o Oriente. Durante muito tempo os EUA nadaram de braçada na região, manietando os conflitos regionais a seu bel prazer.

Um dos atos mais perversos foi o ataque ao Iraque para que este se pusesse sob seu controle. Fracassou na medida em que, mesmo derrubando Saddam com toda sorte de mentiras, não conseguiu estabelecer um controle efetivo da região. O Iraque, pós invasão, se tornou uma terra arrasada com altas no custo de vida, parte da população na pobreza quase absoluta, e nada de reconstrução do país, muito menos da sua economia. Resultado, o Iraque está cada vez mais próximo da China e da Rússia, com o atual governo trabalhando ativamente para se livrar de uma vez por todas, da presença militar americana.

O Afeganistão vivou um atoleiro do qual os EUA saíram com o rabo entre as pernas, e gente pendurada nos aviões.

A Síria foi destruída por puro capricho, sem nenhuma necessidade, sem nenhum ganho visível, para o povo sírio certamente não, está sendo salva pela Rússia, que está ajudando o país a lutar contra terroristas manietados pelos EUA.

Enfim onde o império colocou suas botas, não cresceu prosperidade, não melhorou a vida das pessoas, nem ele conseguiu se estabelecer de forma consistente.

A bola da vez é a Palestina e, logo ali na esquina, Taiwan.      

                

 *Professor aposentado das redes públicas e privadas. Especialista em Historia do Brasil. 

 

segunda-feira, 22 de maio de 2023

O caso Vinicius Junior, muito além do futebol

 

O caso Vinicius Junior, muito além do futebol

 

“Nós somos o jardim, o resto do mundo é a selva e o jardim precisa ser protegido da selva”

Joseph Borrell

 

Há tempos a Europa tem regredido no se que refere a muitas coisas, mais especialmente no preconceito, racismo, xenofobia, eslavofobia e russofobia.  Parece que a indigência intelectual de suas lideranças se expressa no empobrecimento humanitário de grande parte de sua população e o caso do racismo com o jogador de futebol Vinicius Junior, do Real Madri, no último fim de semana demonstra, mais uma vez esse fato.

Quando a primeira notícia da construção de uma união europeia chegou até mim confesso que fui tomado por um idealismo romântico. Fiquei entusiasmado porque a Europa poderia superar questões seculares como um nacionalismo exacerbado intolerância religiosa etc, A Europa assim poderia oferecer a humanidade um outro projeto de sociedade, mas cooperativa, mais tolerante, mais solidaria. Isso foi no século passado.

Nas últimas décadas, com a ascensão da extrema direita e governos neocons, ainda que travestidos de social democratas, verdes, liberais, trouxeram a tona, uma onda de intolerância, racismo, xenofobia e todos os sentimento mais baixos do ser humano.    

O desprezo por imigrantes, negros, eslavos e tudo que não for branco, ocidental, anglo-saxão, teutônico, católico ou evangélico, é um sentimento que perpassa grandes parcelas da população da sociedade ocidental.

Aqui, no Brasil, conhecemos o racismo como algo direcionado aos negros, mas na Europa o racismo vai além e engloba todo o leste europeu, tratado como inferior. Hitler apenas vocalizou e agiu sobre esse sentimento que está presente em muita gente por lá.

O projeto de Hitler para o leste Europa era simplesmente transformar a população daquela parte da Europa em mão de obra compulsória para a indústria do III Reich.

As práticas do governo espanhol como o muro de Ceuta, a perseguição aos ciganos por parte da França e da Itália, especialmente aos romenos, o antissemitismo, sem falar nos indivíduos de origem africana discriminados em toda a região, mostram que a Europa está regredindo não só economicamente, mas em termos civilizacionais.     

Há, no entanto, muita gente boa por lá, resta esperar que elas tenham forças para reverter essa tendência nefasta.   

domingo, 14 de maio de 2023

A EUROPA PODE SOBREVIVER A ESTE MOMENTO?

 

Um novo fantasma está pairando sobre a Europa - a guerra. O continente mais violento do mundo em termos de número de mortes causadas por guerras nos últimos 100 anos (para não recuar mais e incluir as mortes sofridas pela Europa durante as guerras religiosas e as mortes infligidas pelos europeus aos povos submetidos ao colonialismo) caminha para uma nova guerra.

Quase 80 anos depois da Segunda Guerra Mundial, o conflito mais violento até agora, que matou entre 70 e 85 milhões de pessoas, a guerra que está a caminho pode ser ainda mais mortal. Todos os conflitos anteriores começaram aparentemente sem um motivo forte e deveriam durar pouco tempo. No início desses conflitos, a maioria da população abastada seguia sua vida normal – compras e teatro, leitura de jornais, férias e conversas ociosas sobre política.


 Sempre que surgia um conflito violento localizado, prevalecia a crença de que seria resolvido localmente. Por exemplo, muito poucas pessoas (incluindo políticos) pensaram que a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), que levou à morte de mais de 500.000 pessoas, seria o prenúncio de uma guerra mais ampla – a Segunda Guerra Mundial – mesmo que as condições no chão apontaram para isso. Sabendo que a história não se repete, é legítimo perguntar se a atual guerra entre a Rússia e a Ucrânia não é o prenúncio de uma nova guerra muito mais ampla.

 

Acumulam-se os sinais de que um perigo maior pode estar no horizonte. Ao nível da opinião pública e do discurso político dominante, a presença deste perigo manifesta-se em dois sintomas opostos. Por um lado, as forças políticas conservadoras não apenas controlam as iniciativas ideológicas, mas também gozam de uma recepção privilegiada na mídia. São inimigos polarizadores da complexidade e da argumentação serena, que usam palavras extremamente agressivas e fazem apelos inflamados ao ódio.

 Estas forças políticas conservadoras não se incomodam com a duplicidade com que comentam os conflitos e a morte (por exemplo, entre as mortes resultantes dos conflitos na Ucrânia e na Palestina), nem com a hipocrisia de apelar para valores que negam pela sua prática (eles expõem a corrupção de seus oponentes para esconder a sua própria).

 Nessa corrente de opinião conservadora, cada vez mais posições de direita e de extrema-direita se misturam, e o maior dinamismo (agressividade tolerada) vem destas últimas. Este dispositivo visa inculcar a ideia da necessidade de eliminar o inimigo. A eliminação por palavras leva a uma predisposição da opinião pública para a eliminação por atos.

 

Embora numa democracia não existam inimigos internos, apenas adversários, a lógica da guerra é insidiosamente transposta para assumir a presença de inimigos internos, cujas vozes devem primeiro ser silenciadas. Nos parlamentos, as forças conservadoras dominam a iniciativa política; enquanto as forças de esquerda, desorientadas ou perdidas em labirintos ideológicos ou cálculos eleitorais incompreensíveis, revertem a uma defesa tão paralisante quanto incompreensível. Como na década de 1930, a apologia do fascismo é feita em nome da democracia; a apologia da guerra é feita em nome da paz.

 Mas essa atmosfera político-ideológica é sinalizada por um sintoma oposto. Os observadores ou comentaristas mais atentos estão cientes do fantasma que assombra a Europa e surpreendentemente convergiram ao expressar suas preocupações sobre o assunto. Nos últimos tempos, tenho me identificado com análises de comentaristas que sempre reconheci como pertencentes a uma família política diferente da minha: comentaristas conservadores, de direita moderada. O que temos em comum é a distinção que fazemos entre as questões da guerra e da paz e as questões da democracia. Podemos divergir no primeiro e convergir no segundo. Todos concordamos que só o reforço da democracia na Europa pode conduzir à contenção do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e, idealmente, conduzir à sua solução pacífica. Sem uma democracia vigorosa,

 


Há tempo para evitar a catástrofe? Eu gostaria de dizer que sim, mas não posso. Os sinais são muito preocupantes. Primeiro, a extrema direita está crescendo globalmente, impulsionada e financiada pelas mesmas partes interessadas que se reúnem em Davos para cuidar de seus negócios. Na década de 1930, tinham muito mais medo do comunismo do que do fascismo, hoje, sem a ameaça comunista, temem a revolta das massas empobrecidas e propõem como única resposta a violenta repressão policial e militar. Sua voz parlamentar é a da extrema direita. Guerra interna e guerra externa são as duas faces do mesmo monstro, e a indústria de armas ganha igualmente com ambas as guerras.

 Em segundo lugar, a guerra na Ucrânia parece mais confinada do que na realidade é. O atual flagelo, que assola o continente, onde há 80 anos morreram tantos milhares de inocentes (a maioria deles judeus), assemelha-se muito à autoflagelação. A Rússia até aos Urais é tão europeia como a Ucrânia, e com esta guerra ilegal, para além da perda de vidas inocentes, muitas das quais serão pessoas de língua russa, a Rússia está a destruir as infra-estruturas que ela própria construiu sob a ex-União Soviética.

 A história e as identidades étnico-culturais entre a Rússia e a Ucrânia estão muito mais entrelaçadas do que com outros países que outrora ocuparam a Ucrânia e agora a apoiam. A Ucrânia e a Rússia precisam garantir uma maior ênfase em seus processos democráticos para acabar com a guerra e garantir a paz.

 

A Europa é muito maior do que os olhos de Bruxelas podem alcançar. Na sede da Comissão Europeia (ou sede da OTAN, que dá no mesmo), domina a lógica da paz segundo o Tratado de Versalhes de 1919, e não a estabelecida no Congresso de Viena de 1815. A primeira humilhou a potência derrotada (Alemanha) após a Primeira Guerra Mundial, e a humilhação levou a uma nova guerra 20 anos depois; este honrou a potência derrotada (a França napoleônica) e garantiu um século de paz na Europa.

 

A paz que hoje se propõe é a do Tratado de Versalhes. Pressupõe a derrota total da Rússia, tal como Adolf Hitler a imaginou quando invadiu a União Soviética em 1941. Mesmo admitindo que isto ocorra ao nível da guerra convencional, é fácil prever que se a potência perdedora tiver armas nucleares, não hesitará em usá-los. Haverá um holocausto nuclear. Os neoconservadores americanos já incluem essa eventualidade em seus cálculos, convencidos em sua cegueira de que tudo ocorrerá a milhares de quilômetros de suas fronteiras. América primeiro... e por último. É bem possível que já estejam pensando em um novo Plano Marshall, desta vez para armazenar o lixo atômico acumulado nas ruínas da Europa.

 Sem a Rússia, a Europa é metade de si mesma, econômica e culturalmente. A maior ilusão inculcada nos europeus pela guerra de informação do ano passado é que a Europa, uma vez amputada da Rússia, poderá recuperar sua integridade com a ajuda dos EUA, que cuidam muito bem de seus interesses. A história mostra que um império em declínio sempre tenta arrastar suas zonas de influência para retardar o declínio. Se ao menos a Europa soubesse cuidar de seus próprios interesses.

Boaventura de Sousa Santos é professor emérito de sociologia na Universidade de Coimbra, em Portugal. Seu livro mais recente é  Decolonizing the University: The Challenge of Deep Cognitive Justice .

Publicado originalmente no globetrotter

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

NEOFASCIMO, SUBPRODUTO DO NEOLIBERALISMO



Recentemente,  estivemos em contato com o pessoal do Brave new Europa  , conversamos sobre a colaboração nessa nossa empreitada de entender esse universo de transformações que estamos vivendo. O resultado disso é nosso redirecionamento para alguns artigos fundamentais  de colaboradores do BNE como Boaventura e Chomsky.

Recomento muito fortemente a leitura desse artigo em forma de uma entrevista com o Noam Chomsky sobre a emergência do fascismo no mundo atual .

O terreno está bem preparado para o neofascismo preencher o vazio deixado pela guerra de classes forjada pelo neoliberalismo, diz Chomsky

Leia aqui  

FILME: RASTROS DE UM CRIME

  Rastros de um crime (2021), dirigido por Erin Eldes     Não é um rambo, ou o glamour das altas esferas da sociedade estadunidense. P...