GUERRA NA UCRÂNIA
POR: ISAIAS ALMEIDA*
RESUMO
De dezembro de 2021 a janeiro
de 2022, a Rússia tentou forçar uma negociação com o Ocidente para resolver a
questão do armamento constante da Ucrânia, argumentando que isso colocava em
risco a segurança da Rússia. Isso ocorreu depois de a Ucrânia, por instigação do
Ocidente, continuar a se armar e atacando as regiões de maioria russa dentro
da própria Ucrânia. Estimativas da ONU dão conta de 10 mil mortos nesses
ataques desde 2014, quando um golpe na Ucrânia destituiu um presidente pró Rússia colocando em seu lugar um presidente pró Ocidente. Na época, Odessa foi
duramente castigada por resistir ao golpe e a Crimeia, depois de um plebiscito,
decidiu ficar com a Rússia.
Houve uma frenética insistência
Russa, inclusive com a divulgação, que a mídia Ocidental fez questão de
ignorar, de documentos enviados a Washington pela chancelaria russa, pedindo
uma rodada de negociações para evitar o pior.
Diante das negativas do
Ocidente a Rússia foi forçada a entrar na Ucrânia para proteger o Dombas, região
de maioria Russa. Assim, em fevereiro de 2022, tropas russas entraram em Donetsk,
Karkov e outras regiões, o exército russo avançou até perto de Kiev, capital da
Ucrânia. A essa altura a Rússia ainda queria evitar a guerra, já que na visão
dos russos trata-se de uma guerra civil, são povos eslavos, com raízes no império
russo.
Em março de 2022, a Rússia
busca negociações para evitar a continuação das hostilidades, mas uma ação
efetiva de Boris Johnson e dos EUA frustram as tentativas de negociação. Assim
começa a guerra.
A Rússia invade os territórios
e vários são anexados, mas a Ucrânia devidamente armada e treinada pelo
Ocidente reage, reconquistam pequenas áreas, mas não detém o avanço russo.
Nesse ponto é preciso
esclarecer, o Ocidente apostou nesse conflito com a esperança de quebrar a resistência
russa à uma integração subordinada aos interesses da OTAN e dos EUA. Não
funcionou.
Vejamos os objetivos do
Ocidente:
- Desgastar a capacidade
militar russa;
- Destruir a economia russa através de pesadas sansões;
- Criar uma crise interna de
tal ordem que levasse a queda de Wladimir Putin.
Bem, nenhum dos três objetivos
foram alcançados.
A indústria militar russa se reestruturou
mais rápido do que o previsto, além de ter em alguns campos, uma clara vantagem tecnológica
em relação ao Ocidente.
As sansões contra a economia
russa provocou dois efeitos: levou a Rússia a aumentar seu comércio com Oriente
e a Ásia, graças as suas imensas reservas de gás e petróleo e produtos agrícolas e,
uma economia que se mostrou bastante resiliente aos boicotes ocidentais, além
de ter capacidade de substituição de importações acima do esperando no Ocidente.
Acordos de longo prazo foram
assinados entre Rússia e China e entre Rússia e Índia, uma maior aproximação
com o Irã e a Coreia do Norte, garantiram a Rússia inclusive acesso a mais
armamentos.
Enquanto as economias da Zona
do euro despencam a Rússia vai ter crescimento. Asa previsões desse ano para o
ano 2023 são de 2,8 para Rússia e 0,6 para a zona do euro
Outro efeito das sanções foi provocar,
acelerar a crise na Europa A questão habitacional se tornou crônica. Na década
de 1970 os europeus gastavam em média 1/5 do salário com aluguel, hoje pode
variar de 50 a 70%, a solução para muitos tem sido se mudar para longe dos centros
urbanos e vivenciar o que os trabalhadores do mundo em desenvolvimento
vivenciam, ter que passar horas no transporte para o trabalho. Para o europeu
é uma experiência nova.
A destruição dos Nortstream, os
grandes gasodutos partindo da Rússia com destino ao resto da Europa,
orquestrada pelos EUA, colocou a Europa numa situação crítica, tendo que pagar
aos americanos um valor até 7 vezes maior que o oferecido pelos russos. A classe
trabalhadores nesses países é quem está sofrendo as consequências dessa
estupidez.
Quanto a crise interna na
Rússia com a derrubada de Putin, também não correu como previsto nos sonhos
molhados dos otanicista e atlanticista.
Putin enfrentou uma tentativa
de motim, organizada por Prigozhin, o homem do PMC Wagner, empresa privada
militar, importante na conquista de Barkmut, o motim foi facilmente debelado e
Prigozhin acabou morto. O episódio reforçou a autoridade de Putin e ao que tudo indica,
uniu ainda mais o país.
No terreno militar as coisas
não vão nada bem para as forças Ocidentais. Em julho de 2023 foi anunciada, com
pompa e circunstância, uma contraofensiva ucraniana que poria a Rússia de
joelhos. Nós estamos em janeiro e, nada ainda.
A tal contraofensiva se
deparou com uma bem armada defesa Rússia em toda a linha de contato. O exército
ucraniano se viu preso em um moedor de carne em Barkhmut, (Artemovsk em russo). Depois de pesadas perdas em homens e equipamentos por parte dos ucranianos, a
Rússia tomou Barkhmut, e agora mais recentemente conquistou Marinka e avança
para Adveevka.
A questão militar será objeto
de um boletim a parte.
Vamos tratar das implicações desse
conflito. A brutal ofensiva ocidental em termos de sanções provocou vertigens no
sul global, muitos países começaram a raciocinar da seguinte forma. Se
um país desagrada ao império, eles simplesmente tomam todo o seu dinheiro? É
assim que a banda toca?
Ah mais isso é com a Rússia.
Acontece que a Rússia é uma potência nuclear, se faz isso com a Rússia, o que não
fará conosco? Veja a Venezuela, foi literalmente roubada. Ai já viu, um monte
de gente fez fila nas portas dos BRICS.
2023 marca um momento em que o grito de liberdade se transformou na seguinte
expressão: Desdolarização. Resultado, a 20 anos atrás 70% das transações internacionais
entre países eram feitas em dólar, hoje está em 50%. Só não caiu mais ainda por que a
China tem zilhões de ativos em dólar, mas tanto China quanto outros países vêm
diminuindo sua participação na farra que os EUA fazem com sua moeda.
Os BRICS tomaram um novo
folego ao serem vistos cada vez mais com uma alternativa ao ”mundo baseado em
regras do Ocidente”, as regras deles, para benefício deles claro.
Como está cada vez mais
evidente que a guerra na Ucrânia não vai dar os frutos pretendidos o Ocidente
se volta cada vez mais para a crise no Oriente Médio, para além do genocídio em
Gaza, está a questão de controlar o Oriente. Durante muito tempo os EUA nadaram
de braçada na região, manietando os conflitos regionais a seu bel prazer.
Um dos atos mais perversos foi o ataque ao Iraque para que este se pusesse sob seu
controle. Fracassou na medida em que, mesmo derrubando Saddam com toda sorte de
mentiras, não conseguiu estabelecer um controle efetivo da região. O Iraque, pós
invasão, se tornou uma terra arrasada com altas no custo de vida, parte da
população na pobreza quase absoluta, e nada de reconstrução do país, muito
menos da sua economia. Resultado, o Iraque está cada vez mais próximo da China
e da Rússia, com o atual governo trabalhando ativamente para se livrar de uma vez
por todas, da presença militar americana.
O Afeganistão vivou um
atoleiro do qual os EUA saíram com o rabo entre as pernas, e gente pendurada nos
aviões.
A Síria foi destruída por puro
capricho, sem nenhuma necessidade, sem nenhum ganho visível, para o povo sírio certamente
não, está sendo salva pela Rússia, que está ajudando o país a lutar contra
terroristas manietados pelos EUA.
Enfim onde o império colocou
suas botas, não cresceu prosperidade, não melhorou a vida das pessoas, nem ele
conseguiu se estabelecer de forma consistente.
A bola da vez é a Palestina e,
logo ali na esquina, Taiwan.
*Professor aposentado das redes públicas e privadas. Especialista em Historia do Brasil.