sexta-feira, 31 de março de 2023

Mundo multipolar

 

O mundo já é multipolar

Por: Isaias Almeida

 

 

Já temos um mundo multipolar, isso porque não existe mais um único polo de desenvolvimento no mundo.

Os EUA seguem sendo uma grande potência, a maior do mundo em termos militares, mas seu domínio ancorado nas armas e no dólar está sendo questionado.

O pressuposto da unipolaridade seria a existência de uma única potência com poder de subjugar os demais países do mundo, Isso já não é verdade.

 

Primeiro porque existem outros países capazes de enfrentar o mundo norte americano.

A china faz esse desafio no plano econômico. Não há uma política de beligerância por parte da China, em nenhum momento a China se mostrou imperialista. Seja nos pronunciamentos de suas lideranças, seja nos planos econômicos, seja nas relações exteriores com as nações com quem negocia. Então, “A China como uma ameaça” é uma criação dos EUA vendida pelos norte-americanos para a Europa e, desde muito tempo, tentativa de vender para o resto do mundo.

 

Segundo a existência de uma Rússia forte, independente, soberana.

Após a farra dos Havard boys com o bêbado do Boris Yeltsin, a Rússia foi reduzida a quase nada, a ponto de líderes dos Estados Unidos compara-la a um grande posto de gasolina e nada mais. Mas, eis que a Rússia foi capaz de ressurgir, aparecer no cenário mundial como gente grande, soberana e independente.

O fato é que tanto China quanto a Rússia, muito mais a China, são países capazes de sobreviver sem ajuda norte americana. Esse fato é evidenciado na capacidade de se defender, na capacidade de tocar sua economia de forma autônoma, na capacidade de garantir sua segurança alimentar.

 

Lá nos anos 90, pós queda da União Soviética, não estava no horizonte próximo dos estados unidences, a perspectiva de que China, Rússia e outras nações como indonésia, Irã, Paquistão, Bolívia, México fosse capaz de se autonomizar ao ponto de desafiar em alguma medida seja qual fosse a medida o domínio americano.

No entanto, ao menos economicamente esses países ou se desenvolveram a tal ponto ou estabeleceram relações com a Rússia e a China de tal forma, que passaram a dizer não, sempre que oportuno e preciso, aos EUA.

 

Dois fatos recentes bastante espantosos foram a recusa da Arábia Saudita e da Rússia, no âmbito da OPEP terem se recusado a aumentar a produção de petróleo, apesar de um pedido ruidoso, explicito, aberto do governo dos Estados Unidos. Biden voou para Riad com esse propósito e, voltou de mãos vazias. Diversos países efetivamente estão realizando transações de grande vulto, estratégicas, em outras moedas que não o dólar, com destaque para o yuan chinês. Esses fatos não estavam no radar da RAND Corporation, ou do Washington Institute , ou do Houston Council.  

 

Mas o mundo andou. A China venceu a corrida da globalização, se agigantou nesse processo e começou a estabelecer relações externas propondo não a submissão econômica ou a intromissão política nos negócios de seus parceiros comerciais, mas relações de fato bilaterais, sem precondições, sem interferências, em boa parte baseadas na ideia do ganha a ganha, benefícios mútuos, rompendo com o padrão americano de pressão econômica ou militar ou ambas.

Esse comportamento chinês é que constitui a tal “ameaça chinesa” na percepção dos Estados Unidos.

 

Esse cenário atual criou e vem consolidando dia a dia o mundo multipolar. Mesmo que não se queira admitir o fato que existe uma multipolaridade não consolidada é verdade, mas ao mesmo tempo irreversível. O mundo não voltara a ser unipolar apesar da reação americana.

 

De fato, há um esforço americano nesse sentido. O governo americano, aproveitando a SMO russo na Ucrânia, acelerou a decadência/dependência europeia de forma espantosa, explodindo os gasodutos que garantiam gás e petróleo russo barato para a Europa. Com isso a Alemanha, maior economia europeia, foi nocauteada, a essa altura, de forma quase irreversível, se submetendo completamente aos interesses dos EUA. A Inglaterra, de a muito não tem autonomia alguma em política externa, dança conforme a música de Washington.

 

A retirada humilhante do Afeganistão fez parte de uma estratégia de focar em dois pontos centrais, o cerco à Rússia com a expansão da OTAN, e a obsessão em frear o crescimento da China.

O plano Americano contava a possibilidade de a Rússia assistir passivamente a expansão da OTAN, afinal já tinha tolerado muito. A possibilidade de incorporar a Ucrânia, alimentava a possibilidade de fazê-lo sem uma reação de Moscou que deveria se dar por satisfeita com a incorporação da Crimeia. Faltou combinar com os russos.

A reação da Rússia virou um problemão na medida em que já estava em andamento um endurecimento com a China, tanto é que ainda é motivo de discussão em Washington se eles podem arcar com duas frentes simultâneas, embora as forças que defendem que sim esteja no comando atualmente.   

Seja como for, a guerra na Ucrânia, atrapalha a estratégia de cercar a China na medida em que, como qualquer guerra exige muito em energias, recursos, gastos enquanto a China plana tranquilamente reforçando seu caixa, expandindo suas relações externas, influenciando economicamente várias regiões, sem as pressões de um conflito armado. A corrida da China para ultrapassar os EUA vai de vento em popa. É muito duvidoso que as sanções, no patamar atual, sejam suficientes para parar ou desacelerar a China.

Claro, existem as movimentações americanas no Pacifico com objetivo de cercar militarmente a China, mas duvido da capacidade de tais movimentações frear o desenvolvimento chinês. Segundo alguns analistas existem 43 itens que definem a liderança tecnológica de um país, os chineses dominam 37 desses itens, sendo o domínio dos semicondutores uma espécie de fronteira final nessa corrida.

O mundo multipolar está aí, confuso, ainda não definido, sem contornos nítidos, mas está aí.         

Isaias Almeida

Professor aposentado

pós graduado em Historia do Brasil


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