O mundo já é multipolar
Por: Isaias Almeida
Já
temos um mundo multipolar, isso porque não existe mais um único polo de
desenvolvimento no mundo.
Os
EUA seguem sendo uma grande potência, a maior do mundo em termos militares, mas
seu domínio ancorado nas armas e no dólar está sendo questionado.
O
pressuposto da unipolaridade seria a existência de uma única potência com poder
de subjugar os demais países do mundo, Isso já não é verdade.
Primeiro
porque existem outros países capazes de enfrentar o mundo norte americano.
A
china faz esse desafio no plano econômico. Não há uma política de beligerância
por parte da China, em nenhum momento a China se mostrou imperialista. Seja nos
pronunciamentos de suas lideranças, seja nos planos econômicos, seja nas
relações exteriores com as nações com quem negocia. Então, “A China como uma ameaça”
é uma criação dos EUA vendida pelos norte-americanos para a Europa e, desde
muito tempo, tentativa de vender para o resto do mundo.
Segundo
a existência de uma Rússia forte, independente, soberana.
Após
a farra dos Havard boys com o bêbado do Boris Yeltsin, a Rússia foi reduzida a
quase nada, a ponto de líderes dos Estados Unidos compara-la a um grande posto
de gasolina e nada mais. Mas, eis que a Rússia foi capaz de ressurgir, aparecer
no cenário mundial como gente grande, soberana e independente.
O
fato é que tanto China quanto a Rússia, muito mais a China, são países capazes
de sobreviver sem ajuda norte americana. Esse fato é evidenciado na capacidade
de se defender, na capacidade de tocar sua economia de forma autônoma, na capacidade
de garantir sua segurança alimentar.
Lá
nos anos 90, pós queda da União Soviética, não estava no horizonte próximo dos estados
unidences, a perspectiva de que China, Rússia e outras nações como indonésia,
Irã, Paquistão, Bolívia, México fosse capaz de se autonomizar ao ponto de
desafiar em alguma medida seja qual fosse a medida o domínio americano.
No
entanto, ao menos economicamente esses países ou se desenvolveram a tal ponto
ou estabeleceram relações com a Rússia e a China de tal forma, que passaram a
dizer não, sempre que oportuno e preciso, aos EUA.
Dois
fatos recentes bastante espantosos foram a recusa da Arábia Saudita e da Rússia,
no âmbito da OPEP terem se recusado a aumentar a produção de petróleo, apesar
de um pedido ruidoso, explicito, aberto do governo dos Estados Unidos. Biden voou
para Riad com esse propósito e, voltou de mãos vazias. Diversos países efetivamente
estão realizando transações de grande vulto, estratégicas, em outras moedas que
não o dólar, com destaque para o yuan chinês. Esses fatos não estavam no radar
da RAND Corporation, ou do Washington Institute , ou do Houston Council.
Mas
o mundo andou. A China venceu a corrida da globalização, se agigantou nesse
processo e começou a estabelecer relações externas propondo não a submissão econômica
ou a intromissão política nos negócios de seus parceiros comerciais, mas
relações de fato bilaterais, sem precondições, sem interferências, em boa parte
baseadas na ideia do ganha a ganha, benefícios mútuos, rompendo com o padrão americano
de pressão econômica ou militar ou ambas.
Esse
comportamento chinês é que constitui a tal “ameaça chinesa” na percepção dos
Estados Unidos.
Esse
cenário atual criou e vem consolidando dia a dia o mundo multipolar. Mesmo que
não se queira admitir o fato que existe uma multipolaridade não consolidada é
verdade, mas ao mesmo tempo irreversível. O mundo não voltara a ser unipolar
apesar da reação americana.
De
fato, há um esforço americano nesse sentido. O governo americano, aproveitando
a SMO russo na Ucrânia, acelerou a decadência/dependência europeia de forma
espantosa, explodindo os gasodutos que garantiam gás e petróleo russo barato
para a Europa. Com isso a Alemanha, maior economia europeia, foi nocauteada, a
essa altura, de forma quase irreversível, se submetendo completamente aos
interesses dos EUA. A Inglaterra, de a muito não tem autonomia alguma em política
externa, dança conforme a música de Washington.
A
retirada humilhante do Afeganistão fez parte de uma estratégia de focar em dois
pontos centrais, o cerco à Rússia com a expansão da OTAN, e a obsessão em frear
o crescimento da China.
O
plano Americano contava a possibilidade de a Rússia assistir passivamente a expansão
da OTAN, afinal já tinha tolerado muito. A possibilidade de incorporar a Ucrânia,
alimentava a possibilidade de fazê-lo sem uma reação de Moscou que deveria se
dar por satisfeita com a incorporação da Crimeia. Faltou combinar com os
russos.
A
reação da Rússia virou um problemão na medida em que já estava em andamento um
endurecimento com a China, tanto é que ainda é motivo de discussão em
Washington se eles podem arcar com duas frentes simultâneas, embora as forças
que defendem que sim esteja no comando atualmente.
Seja
como for, a guerra na Ucrânia, atrapalha a estratégia de cercar a China na
medida em que, como qualquer guerra exige muito em energias, recursos, gastos
enquanto a China plana tranquilamente reforçando seu caixa, expandindo suas
relações externas, influenciando economicamente várias regiões, sem as pressões
de um conflito armado. A corrida da China para ultrapassar os EUA vai de vento
em popa. É muito duvidoso que as sanções, no patamar atual, sejam suficientes
para parar ou desacelerar a China.
Claro,
existem as movimentações americanas no Pacifico com objetivo de cercar
militarmente a China, mas duvido da capacidade de tais movimentações frear o
desenvolvimento chinês. Segundo alguns analistas existem 43 itens que definem a
liderança tecnológica de um país, os chineses dominam 37 desses itens, sendo o domínio
dos semicondutores uma espécie de fronteira final nessa corrida.
O
mundo multipolar está aí, confuso, ainda não definido, sem contornos nítidos,
mas está aí.
Isaias Almeida
Professor aposentado
pós graduado em Historia do Brasil
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