segunda-feira, 6 de março de 2023

MERCOSUL

 


Mercado Comum do Sul (Mercosul; em castelhano: Mercado Común del Sur, Mercosur) é uma organização intergovernamental regional fundada a partir do Tratado de Assunção em 26 de março de 1991. Estabelece uma integração regional, inicialmente econômica, configurada atualmente em uma união aduaneira, na qual há livre-comércio intrazona e política comercial comum entre os países-membros. Situados todos na América do Sul, sendo atualmente quatro membros plenos.

 

As origens do Mercosul estão ligadas às discussões para a constituição de um mercado econômico regional para a América Latina, que remontam ao tratado que estabeleceu a Associação Latino-Americana de Livre-Comércio (ALALC) desde a década de 1960. Esse organismo foi sucedido pela Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) na década de 1980. À época, a Argentina e o Brasil fizeram progressos na matéria, assinando a Declaração do Iguaçu (1985), que estabelecia uma comissão bilateral, à qual se seguiram uma série de acordos comerciais no ano seguinte. O Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, assinado entre ambos os países em 1988, fixou como meta o estabelecimento de um mercado comum, ao qual outros países latino-americanos poderiam se unir. Aderiram o Paraguai e o Uruguai ao processo e os quatro países se tornaram signatários do Tratado de Assunção (1991), que estabeleceu o Mercado Comum do Sul, uma aliança comercial visando a dinamizar a economia regional, movimentando entre si mercadorias, pessoas, força de trabalho e capitais.

 

Inicialmente foi estabelecida uma zona de livre-comércio, em que os países signatários não tributariam ou restringiriam as importações um do outro. A partir de 1° de janeiro de 1995, esta zona converteu-se em união aduaneira, na qual todos os signatários poderiam cobrar as mesmas quotas nas importações dos demais países (tarifa externa comum). No ano seguinte, a Bolívia e o Chile adquiriram o estatuto de associados. Outras nações latino-americanas manifestaram interesse em entrar para o grupo. Em 2004, entrou em vigor o Protocolo de Olivos (2002), que criou o Tribunal Arbitral Permanente de Revisão do Mercosul, com sede na cidade de Assunção (Paraguai), por conta da insegurança jurídica no bloco sem a existência de um tribunal permanente. Dentre acordos econômicos firmados entre o Mercosul e outros entes, estão os tratados de livre-comércio (TLC) com Israel assinado no dia 17 de dezembro de 2007 e com o Egito assinado em 2 de agosto de 2010.

Em 23 de maio de 2008 foi assinado o Tratado Constitutivo da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), composta pelos doze Estados da América do Sul e fundada dentro dos ideais de integração sul-americana multissetorial. A organização conjuga as duas uniões aduaneiras regionais: o Mercosul e a Comunidade Andina (CAN). O cargo de Secretário-geral da Unasul fornece à entidade uma liderança política definida no cenário internacional, sendo um primeiro passo para a criação de um órgão burocrático permanente para uma união supranacional, que eventualmente substituirá os órgãos políticos do Mercosul e da CAN.

Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América

 ALBA-TCP


Emblema da Aliança Bolivariana - Enigmaticland

Foi constituída na cidade de Havana, capital de Cuba, em 14 de dezembro de 2004, como um acordo entre Venezuela e Cuba, tendo as assinaturas dos presidentes de ambos países na época, Hugo Chávez e Fidel Castro. Este início deu-se pela colaboração de Cuba ao enviar médicos para ajudar no território venezuelano e pela colaboração da Venezuela ao abastecer Cuba com seu petróleo.

Atualmente a ALBA-TCP é composta por sete países, dos quais alguns possuem governos de cunho socialista. Além de Venezuela e Cuba, permanecem no bloco: Nicarágua, Bolívia, Dominica, Antigua e Barbuda e São Vicente e Granadinas.



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Quem está ganhando a guerra na Ucrânia?

Quem está ganhando a guerra na Ucrânia?

 

Depende. Do ponto de vista econômico os EUA no topo. Em primeiro lugar porque  Ao explodir os gasodutos russos, os EUA mataram dois coelhos com uma cajadada: 1 impediu uma especulada aproximação da Alemanha com a Rússia, em função da necessidade de gás e petróleo; 2 levou a Europa a ter que importar o gás americano de 7 a 10 vezes mais caro que o gás russo, os lucros estão nas alturas nas empresas americanas. Em segundo lugar a indústria bélica americana está radiante com a subida das encomendas e conseguintemente das ações das empresas do setor, o famoso Complexo Militar Americano esfrega as mãos com as encomendas de armas e munições da Europa.

Mas a Rússia também está lucrando. Com a aplicação das sanções esperava-se que a Rússia iria à falência, tudo começaria a faltar e a oposição interna a Putin pressionaria por sua queda.   Mas não foi o que aconteceu. A economia russa vai muito bem obrigado, e está ocorrendo um fenômeno impensável, os EUA com seus pacotes de sanções empurrou a Rússia para incrementar sua industrialização. É aquela coisa, você sabe o que vai fazer, planejou, mas uma vez que desencadeia um evento, meio que perde o controle, na pratica aparecem um monte de coisas que não estava nos seus planos. E é a assim que Putin, não tão avesso ao neoliberalismo, está tendo que dar, na prática, uma guinada desenvolvimentista, praticando uma política de substituição de importações.

Claro, não dá para substituir todas as importações, mas grande parte sim, o país foi agraciado com grandes reservas de minerais e capacidade agrícola que o torna quase autossuficiente. Além disso, quase tudo que não dá para produzir pode ser obtido por intermediários. Resultado a Rússia é a vice-campeã no campo econômico.

Eu tenho especulado, me faltam dados mais precisos, mas acho que, quem realmente ganha mais no campo econômico são dois países do Oriente, não diretamente envolvidos no conflito, trata-se da China e da Índia. Meu palpite é que enquanto Rússia Europa e EUA se envolvem num conflito com gastos absurdos de recursos, sem prazo da validade, China e Índia caminham a passos largos. A índia tem ótimas perspectivas de crescimento para este ano e a China vai crescer mais que a Europa.    

No campo militar a Rússia está na frente, nesse momento tem a inciativa e, se nada de extraordinário acontecer, vai vencer a guerra, o que quer que seja vencer a guerra. Digo isso porque ninguém no planeta terra, a não ser o alto comando russo, sabe dizer ao certo onde param os objetivos da Rússia: Dombass? Kiev? Ninguém sabe.

O que se pode saber? Primeiro, as forças ucranianas estão no limite, muitas perdas, pouca reposição. Do outro lado as forças russas estão se movendo, avançando lentamente pelo terreno e dispõe ainda de estimados 350.000 ( McGregor, Michael Hudson e outros)  soldados treinados e prontos para entrar na batalha.

Segundo, as capacidades europeias estão se esgotando, há problemas de todo tipo. As munições não são suficientes, o número de tanques estimados está em baixa, a OTAN hesita em mandar mais equipamentos, mais sofisticados temendo a reação russa, as rachaduras na aliança ocidental começam a aparecer: protestos nos países da OTAN, dissidências dentro da Aliança quando ao envio de armas em geral.

Além disso a Ucrânia caminha para não mais existir como país independente, o país está literalmente sendo todo vendido, e quem está caindo em cima de qualquer ativo prestável seja terras e/ou empresas são os americanos, ingleses, franceses e alemães.  É bem provável que antes de acabar a guerra a Ucrânia se acabe.        

 

sábado, 11 de fevereiro de 2023

O BRASIL A BOLÍVIA E O LÍTIO

 


 A OPEP do lítio, acorda Brasil !

 

 

 

A Bolívia passou, recentemente, por um golpe civil militar movido pelas potencias capitalistas do Norte. A Bolívia é um dos estados, senão o estado, mais pobre da América Latina. Qual o interesse em dar um golpe na Bolívia? Resposta elementar, a esquerda assumiu o poder e Tio Sam como sempre não gosta de governos de esquerda. Verdade? Meia verdade

Como venho argumentando o atual estágio do capitalismo nas grandes economias não aceita um não como resposta, de uma forma ou de outra ele vai tentar sempre forçar algum pais reticente a aceitar seus termos.

Além disso há que estudar os manuais publicados por diversas agências dos EUA e seus porta-vozes disfarçados de acadêmicos ou jornalistas para poder perceber a tempo os sinais da ofensiva. Estes escritos invariavelmente ressaltam a necessidade de destroçar a reputação do líder popular, o que no jargão especializado se chama “assassinato de reputação”, qualificando-o como ladrão, corrupto, ditador ou ignorante.

Além de seguir as análises dos principais think tanks dos países capitalistas que delimitam o vasto campo de ações que os governos centrais adotam em relação à periferia do sistema e as ações das ONGs supostamente bem-intencionadas.

Depois vem as famosas “forças de segurança” devidamente treinadas nos EUA que entram em cena para assegurar que os neofascistas atuem livremente intimidando, eliminando até fisicamente seus opositores integrantes do governo, vozes discordantes em geral, quanto mais articulados os golpistas melhor porque aí a intervenção militar se dá “por omissão”, os neofascistas assumem o poder, os militares fazem caras de paisagem e o golpe está pronto.     

Felizmente, no caso boliviano a população reagiu e retomou o poder via eleições.

 

Assim chegamos a outra motivação, intimamente ligada a primeira e central para a ocorrência do golpe, o controle da maior reserva mundial de lítio.

Carros, placas solares, centrais eólicas, smartphones tudo leva lítio, daí já viu, controle das reservas de lítio, onde estão as reservas de lítio? Número 1   triângulo do lítio, localização América Latina, países Bolívia Argentina Chile, depois Brasil. Do total das reservas conhecidas de lítio 68% estão na região. Dados do USGS.

Tudo poderia ser resolvido pacificamente, se os capitalistas norte americanos e europeus sentassem à mesa com os países latino americanos e negociassem uma forma dessa riqueza gerar desenvolvimento na região, desse um efetivo retorno à população dos países.

Mas não, as propostas foram no velho estilo do petróleo, a gente suga tudo paga uma bagatela para o governo, alguns capitalistas locais levam alguns trocados nós levamos o lítio. Esse tipo de proposta foi feito em diversas tentativas a Evo Morales.

Só que Evo se revelou um cara teimoso, ele disse nas repetidas vezes, o lítio boliviano tem que servir para o desenvolvimento da Bolívia, ora, isso, no receituário neoliberal, é uma heresia.

Daí o golpe de estado, porque, ao contrário de muitos nacionalistas europeus, os nacionalistas latino americanos são entreguistas, logo seria fácil para os neoliberais botarem as mãos nas reservas de lítio da região.

Felizmente, como as coisas estão mudando, os chineses acenaram com uma proposta, em acordos já fechados com a Bolívia que aponta em outra direção.

Pelo acordo chinês a Bolívia vai realizar o projeto de Evo, explorar suas reservas, controlar o processamento e a transformação com a montagem de uma fábrica de baterias. Assim a Bolívia criará uma empresa nacional que vai, em parceria com os chineses, explorar o recurso. Na formula ganha-ganha dos chineses há uma perspectiva mais decente para os bolivianos.

Me demorei no caso da Bolívia para salientar que a América Latina tem uma oportunidade fantástica de desenvolvimento se tratar seus recursos naturais no quadro do exemplo boliviano.

O Brasil tem a quinta reserva de lítio do mundo, esperamos que o governo brasileiro tenha capacidade de articular a região para construção de acordos nos moldes do conquistado pela Bolívia.          

  

Isaias Jose de Almeida Neto

Pós-graduado em História do Brasil

Professor aposentado

Blogueiro

         

 

 


 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

EXPLOSÃO DO NORD STREAM 1 E 2 , O FIM DO MISTÉRIO

 O jornalista vencedor do Prêmio Pulitzer, Seymour Hersh, relatou que o governo dos EUA destruiu os oleodutos Nord Stream que forneciam gás russo à Alemanha. A administração Biden aprovou a operação da CIA, que usou explosivos e mergulhadores da Marinha, com a ajuda da Noruega, membro da OTAN.

Leia a íntegra do artigo AQUI

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

UMA RETROSPECTIVA NECESSÁRIA

 

Guerra Rússia-Ucrânia: como os EUA abriram caminho para a invasão de Moscou

 

Por Jonathan Cook

 

A retrospectiva é uma ferramenta particularmente poderosa para analisar a guerra na Ucrânia, quase um ano após a invasão russa.

Em fevereiro passado, parecia pelo menos superficialmente plausível caracterizar a decisão do presidente russo, Vladimir Putin, de enviar tropas e tanques para seu vizinho como nada menos que um “ ato de agressão não provocado ”.

Putin era um louco ou um megalomaníaco, tentando reviver a agenda imperial e expansionista da União Soviética. Se sua invasão não fosse contestada, ele representaria uma ameaça para o resto da Europa.

 A corajosa e democrática Ucrânia precisava do apoio sem reservas do Ocidente – e de um suprimento quase ilimitado de armas – para manter a linha contra um ditador desonesto.

Mas essa narrativa parece cada vez mais esfarrapada, pelo menos se lermos além da mídia estabelecida – uma mídia que nunca soou tão monótona, tão determinada a bater o tambor da guerra, tão amnésica e tão irresponsável.

Qualquer pessoa que conteste os últimos 11 meses de esforços incansáveis ​​para escalar o conflito – resultando em mortes e sofrimento incontáveis, fazendo com que os preços da energia disparem, levando à escassez global de alimentos e, finalmente, arriscando uma troca nuclear – é visto como traidor da Ucrânia e descartado como um apologista de Putin.

 

Nenhuma dissidência é tolerada.

 

Putin é Hitler, o tempo é 1938, e qualquer um que tente diminuir o calor não é diferente do apaziguador primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Neville Chamberlain. Ou assim nos disseram. Mas o contexto é tudo.

 Fim das 'guerras eternas'

Quase seis meses antes de Putin invadir a Ucrânia, o presidente Joe Biden retirou os militares dos EUA do Afeganistão após uma ocupação de duas décadas. Foi o aparente cumprimento de uma promessa de acabar com as “ guerras eternas ” de Washington que, ele advertiu, “nos custaram sangue e tesouros incalculáveis”.

 A promessa implícita era que o governo Biden iria não apenas trazer para casa as tropas americanas dos “pântanos” do Oriente Médio do Afeganistão e do Iraque, mas também garantir que os impostos americanos parassem de inundar o exterior para encher os bolsos de empreiteiros militares, fabricantes de armas e oficiais estrangeiros corruptos. Os dólares americanos seriam gastos em casa, na solução de problemas internos.

Mas desde a invasão da Rússia, essa suposição se d
esfez. Dez meses depois, parece fantasioso que alguma vez tenha sido considerada a intenção de Biden.

No mês passado, o Congresso dos EUA aprovou um aumento gigantesco de “apoio” militar à Ucrânia, elevando o total oficial para cerca de US$ 100 bilhões em menos de um ano, com sem dúvida muito mais dos custos escondidos da opinião pública. Isso é muito superior ao orçamento militar anual total da Rússia de £ 65 bilhões.

Washington e a Europa têm despejado armas, inclusive armas cada vez mais ofensivas, na Ucrânia. Encorajado, Kiev tem deslocado o campo de batalha cada vez mais para dentro do território russo.

Autoridades dos EUA, como suas contrapartes ucranianas, falam da luta contra a Rússia continuando até Moscou ser “derrotada” ou Putin derrubado, transformando isso em outra “guerra para sempre” do mesmo tipo que Biden havia acabado de jurar – esta na Europa, e não no Oriente Médio. Leste.

No fim de semana, no Washington Post, Condoleezza Rice e Robert Gates, dois ex-secretários de Estado dos EUA, pediram a Biden que “forneça urgentemente à Ucrânia um aumento dramático em suprimentos e capacidade militar… É melhor parar [Putin] agora, antes que mais seja exigido dos Estados Unidos e da Otan”.

No mês passado, o chefe da Otan, Jens Stoltenberg, alertou que uma guerra direta entre a aliança militar ocidental e a Rússia era uma “ possibilidade real ”.

Dias depois, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, recebeu as boas-vindas de um herói durante uma visita “surpresa” a Washington. A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, e a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, desfraldaram uma grande bandeira ucraniana atrás de seu convidado, como duas líderes de torcida maravilhadas, enquanto se dirigiam ao Congresso.

Os legisladores americanos saudaram Zelensky com uma ovação de pé de três minutos – ainda mais do que a concedida a outro conhecido “homem da paz” e defensor da democracia, o israelense Benjamin Netanyahu. O presidente ucraniano fez eco ao presidente americano durante a guerra, Franklin D Roosevelt, ao pedir “ vitória absoluta ”.

Tudo isso apenas destacou o fato de que Biden se apropriou rapidamente da guerra na Ucrânia, explorando a invasão “não provocada” da Rússia para travar uma guerra por procuração dos EUA. A Ucrânia forneceu o campo de batalha no qual Washington pode revisitar os assuntos inacabados da Guerra Fria.

Dado o momento, um cínico pode se perguntar se Biden saiu do Afeganistão não para finalmente se concentrar em consertar os EUA, mas para se preparar para uma nova arena de confronto, para dar nova vida ao mesmo velho roteiro dos EUA de domínio militar de espectro total.

O Afeganistão precisava ser “abandonado” para que o tesouro de Washington pudesse ser investido em uma guerra contra a Rússia, mas sem os sacos de cadáveres dos EUA?

 

Intenção hostil

 

A réplica, é claro, é que Biden e seus funcionários não poderiam saber que Putin estava prestes a invadir a Ucrânia. Foi uma decisão do líder russo, não de Washington. Exceto…

 

Os formuladores de políticas dos EUA e especialistas em relações EUA-Rússia – de George Kennan e William Burns, atualmente diretor da CIA de Biden, a John Mearsheimer e o falecido Stephen Cohen – vinham alertando há anos que a expansão liderada pelos EUA da Otan para a porta da Rússia estava destinada para provocar uma resposta militar russa.

Putin havia alertado sobre as consequências perigosas em 2008, quando a Otan propôs pela primeira vez que a Ucrânia e a Geórgia – dois ex-estados soviéticos na fronteira com a Rússia – estavam na fila para adesão. Ele não deixou margem para dúvidas ao invadir quase imediatamente, ainda que brevemente, a Geórgia.

Foi essa reação “não provocada” que presumivelmente atrasou a execução do plano da OTAN. No entanto, em junho de 2021, a aliança reafirmou sua intenção de conceder à Ucrânia a adesão à OTAN. Semanas depois, os EUA assinaram acordos separados sobre defesa e parceria estratégica com Kiev, dando efetivamente à Ucrânia muitos dos benefícios de pertencer à Otan sem declará-la oficialmente um membro.

Entre as duas declarações da OTAN, em 2008 e 2021, os EUA repetidamente sinalizaram sua intenção hostil a Moscou e como a Ucrânia pode ajudar em sua postura geoestratégica agressiva na região.

Em 2001, logo após a OTAN começar a se expandir em direção às fronteiras da Rússia, os EUA se retiraram unilateralmente do Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM) de 1972, destinado a evitar uma corrida armamentista entre os dois inimigos históricos.

Livres do tratado, os EUA construíram locais ABM na zona expandida da OTAN, na Romênia em 2016 e na Polônia em 2022. A história de capa era que estes eram puramente defensivos, para interceptar qualquer míssil disparado do Irã.

Mas Moscou não podia ignorar o fato de que esses sistemas de armas também eram capazes de operar ofensivamente, e que os mísseis Cruise com ogiva nuclear poderiam, pela primeira vez, ser lançados a curto prazo contra a Rússia.

Para agravar as preocupações de Moscou, em 2019, o presidente Donald Trump retirou-se unilateralmente do Tratado de 1987 sobre Forças Nucleares de Alcance Intermediário. Isso abriu a porta para os EUA lançarem um potencial primeiro ataque à Rússia, usando mísseis estacionados em membros recém-admitidos da Otan.

 

Enquanto a Otan flertava mais uma vez com a Ucrânia no verão de 2021, o perigo de os EUA serem capazes, com a ajuda de Kyiv, de lançar um ataque preventivo – destruindo a capacidade de Moscou de retaliar efetivamente e derrubando sua dissuasão nuclear – deve ter pesado muito para a Rússia.

 

Impressões digitais dos EUA

 

Não acabou aí. A Ucrânia pós-soviética estava profundamente dividida geográfica e eleitoralmente sobre se deveria olhar para a Rússia ou para a OTAN e a União Europeia para sua segurança e comércio. Eleições apertadas balançaram entre esses dois polos. A Ucrânia era um país atolado em uma crise política permanente, bem como em profunda corrupção.

Esse foi o contexto de um golpe/revolução em 2014 que derrubou um governo em Kyiv eleito para preservar os laços com Moscou. Instalado em seu lugar estava um que era abertamente anti-russo. As impressões digitais de Washington – disfarçadas de “promoção da democracia” – foram todas sobre a mudança repentina de governo para um fortemente alinhado com os objetivos geoestratégicos dos EUA na região.



Muitas comunidades de língua russa na Ucrânia – concentradas no leste, sul e na península da Crimeia – ficaram furiosas com essa aquisição. Preocupado com a possibilidade de o novo governo hostil de Kyiv tentar cortar seu controle histórico da Crimeia e do único porto naval de águas quentes da Rússia, Moscou anexou a península.

De acordo com um referendo subsequente, a população local apoiou a mudança de forma esmagadora. A mídia ocidental divulgou amplamente o resultado como fraudulento, mas pesquisas posteriores sugeriram que os crimeanos acreditavam que representava de maneira justa sua vontade.

Mas foi a região leste de Donbass que serviria como papel de toque para a invasão da Rússia em fevereiro passado. Uma guerra civil eclodiu rapidamente em 2014, colocando as comunidades de língua russa contra combatentes ultranacionalistas e anti-russo, principalmente do oeste da Ucrânia, incluindo neonazistas descarados.  Muitos milhares morreram nos oito anos de luta.


Enquanto a Alemanha e a França negociavam os chamados acordos de Minsk, com a ajuda da Rússia, para impedir a matança no Donbass prometendo maior autonomia à região, Washington parecia estar incentivando o derramamento de sangue.

Despejou dinheiro e armas na Ucrânia. Deu treinamento às forças ultranacionalistas da Ucrânia e trabalhou para integrar os militares ucranianos à Otan por meio do que chamou de “ interoperabilidade ”. Em julho de 2021, com o aumento das tensões, os EUA realizaram um exercício naval conjunto com a Ucrânia no Mar Negro, a Operação Sea Breeze, que levou a Rússia a disparar tiros de advertência contra um destroier naval britânico que entrou nas águas territoriais da Crimeia.

 

No inverno de 2021, como observou o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, Moscou havia “ atingido nosso ponto de ebulição ”. As tropas russas se concentraram na fronteira da Ucrânia em números sem precedentes – em um sinal inconfundível de que a paciência de Moscou estava se esgotando com o conluio da Ucrânia com essas provocações arquitetadas pelos EUA.

 

O presidente Zelensky, que havia sido eleito com a promessa de fazer a paz no Donbass, mas parecia incapaz de subjugar os elementos de extrema direita dentro de seu próprio exército, pressionou precisamente na direção oposta.

 

Forças ucranianas ultranacionalistas intensificaram o bombardeio de Donbass nas semanas anteriores à invasão. Ao mesmo tempo, Zelensky fechou os meios de comunicação críticos e logo proibiria os partidos políticos da oposição e exigiria que a mídia ucraniana implementasse uma “ política de informação unificada ”. À medida que as tensões aumentavam, o presidente ucraniano ameaçou desenvolver armas nucleares e buscar uma adesão rápida à Otan que atolaria ainda mais o Ocidente na carnificina em Donbass e arriscaria o envolvimento direto com a Rússia.

 

Apagando as luzes


Foi então, depois de 14 anos de intromissão dos Estados Unidos nas fronteiras da Rússia, que Moscou enviou seus soldados – “sem provocação”.

O objetivo inicial de Putin, seja qual for a narrativa da mídia ocidental, parecia ser o mais leve possível, já que a Rússia estava lançando uma invasão ilegal. Desde o início, a Rússia poderia ter realizado seus atuais e devastadores ataques à infraestrutura civil ucraniana, fechando as ligações de transporte e apagando as luzes em grande parte do país. Mas parecia evitar conscientemente uma campanha de choque e pavor no estilo americano.

 

Em vez disso, inicialmente se concentrou em uma demonstração de força. Moscou erroneamente parece ter presumido que Zelensky aceitaria que Kyiv havia exagerado, percebeu que os EUA - a milhares de quilômetros de distância - não poderia servir como garantia de sua segurança e foi pressionado a desarmar os ultranacionalistas que tinham como alvo as comunidades russas no leste por oito anos.

Não foi assim que as coisas aconteceram. Visto da perspectiva de Moscou, o erro de Putin parece menos que ele lançou uma guerra não provocada contra a Ucrânia do que demorou muito para invadir. A “interoperabilidade” militar da Ucrânia com a Otan era muito mais avançada do que os planejadores russos parecem ter apreciado.

Em uma entrevista recente, a ex-chanceler alemã Angela Merkel, que supervisionou as negociações de Minsk para acabar com a carnificina de Donbas, pareceu – mesmo que inadvertidamente – ecoar esta visão: as negociações forneceram cobertura enquanto a Otan preparava a Ucrânia para uma guerra contra a Rússia.

Em vez de uma vitória rápida e um acordo sobre novos acordos de segurança regional, a Rússia está agora envolvida em uma prolongada guerra por procuração contra os EUA e a Otan, com os ucranianos servindo como bucha de canhão. A luta e a matança poderiam continuar indefinidamente.

Com o Ocidente decidido contra a pacificação e o envio de armamentos o mais rápido possível, o resultado parece sombrio: ou uma nova divisão territorial sangrenta da Ucrânia em blocos pró-Rússia e anti-Rússia por meio da força das armas, ou escalada a um confronto nuclear.

 

Sem uma intervenção prolongada dos EUA, a realidade é que a Ucrânia teria que chegar a um acordo há muitos anos com seu vizinho muito maior e mais forte – assim como o México e o Canadá tiveram que fazer com os EUA. A invasão teria sido evitada. Agora, o destino da Ucrânia está em grande parte fora de suas mãos. Tornou-se mais um peão no tabuleiro de xadrez das intrigas das superpotências.

Washington se preocupa menos com o futuro da Ucrânia do que com esgotar a força militar da Rússia e isolá-la da China, aparentemente o próximo alvo na mira dos EUA enquanto busca alcançar o domínio de amplo espectro.

Ao mesmo tempo, Washington marcou gols mais amplos, destruindo qualquer esperança de uma acomodação de segurança entre a Europa e a Rússia; aprofundamento da dependência europeia dos EUA, tanto militar quanto economicamente; e levando a Europa a conspirar com suas novas “guerras eternas” contra a Rússia e a China.

Muito mais tesouro será gasto e mais sangue derramado. Não haverá vencedores além dos falcões neoconservadores da política externa que dominam Washington e os lobistas da indústria de guerra que lucram com as intermináveis ​​aventuras militares do Ocident
e.

 

 

Jonathan Cook é autor de três livros sobre o conflito israelense-palestino e vencedor do Prêmio Especial Martha Gellhorn de Jornalismo.

 

Publicado originalmente no Brave NewEurope, nosso parceiro na Europa, traduzido do inglês

O PAPEL DOS MILITARES NO GOLPE FRACASSADO

O papel dos militares brasileiros na tentativa de golpe

Por Pedro Marin. Jornalista e escritor

 

A turba de extrema-direita que invadiu o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal e vandalizou os prédios na Praça dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro, demandava uma “intervenção militar” no Brasil. Eles haviam montado acampamentos em frente a quartéis do Exército por todo o País desde novembro, pedindo que os militares revertessem a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No dia 11 de novembro de 2022, os comandantes das Forças Armadas soltaram uma nota dando guarida aos acampamentos – não só física, mas também legal. É importante sublinhar dois elementos daquele documento: primeiro, os comandantes declaravam, por meio de uma incoerente interpretação, que os acampamentos golpistas eram legais, porque os manifestantes eram pacíficos, e que “tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações” seriam condenáveis, apesar de ser crime exigir que os militares dêem um golpe de Estado (Artigo 286). Na prática, os comandantes das três forças atuavam ali como intérpretes constitucionais, defendendo a legitimidade democrática dos acampamentos golpistas e dizendo, antecipadamente, que qualquer medida tomada pelas instituições contra os acampamentos seria por eles considerada ilegal.

O segundo elemento da nota é a referência ao conceito de Poder Moderador. Reafirmando seu compromisso com o povo brasileiro, os comandantes diziam que as Forças Armadas estiveram “sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história”. O Poder Moderador foi introduzido na Constituição de 1824, com base nas ideias do francês Benjamin Constant, que vaticinava que para evitar a “anarquia” que havia marcado a separação dos Poderes, seria necessário conceder a um deles (no caso brasileiro, o monarca), um quarto poder, capaz de resolver divergências institucionais.

No dia 2 de janeiro, quando o ministro da Defesa de Lula, José Múcio, declarou que considerava os acampamentos uma “manifestação da democracia”, e que tinha “amigos e parentes” nestes acampamentos, ele só repetia o que as Forças Armadas vinham dizendo desde novembro.

O Brasil tem uma longa história de intervenção militar na política. A república brasileira foi fundada através de um golpe militar em 1889. De lá até 1989, o Brasil experimentou pelo menos 15 tentativas de golpes de estado, das quais cinco foram bem-sucedidas: incluindo uma ditadura militar de 21 anos. Após a queda da ditadura, em 1985, havia entre os brasileiros a expectativa de que o controle civil fosse estabelecido sobre os militares e que prevalecesse entre eles o respeito à democracia. Mas o próprio processo de redemocratização foi controlado pelo governo militar cessante, por meio de uma “abertura política lenta, gradual e segura”, nas palavras do então presidente militar Ernesto Geisel, e a pressão do Exército sobre a Assembleia Constituinte que redigiu a Constituição de 1988 garantiu-lhes o papel de “[garantidores] dos Poderes e defensores da Lei e da Ordem”.

Durante os dois primeiros mandatos de Lula (de 2003 a 2011) como presidente, os militares adotaram uma estratégia de lobby ao lidar com o governo. Desde o impeachment da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff em 2016, no entanto, eles parecem ter voltado à linha de frente da política. Começaram a surgir, sem punições, declarações golpistas entre os militares da reserva e da ativa, e até mesmo o então comandante das Forças Armadas, general Eduardo Villâs Boas, afirmou “repudiar a impunidade” em um tuíte quando o STF se preparava para decidir sobre um pedido de habeas corpus impetrado por Lula em 2018. Mais tarde, Villâs Boas descreveria seu tuíte como um “alerta”. O Exército assumiu cargos importantes no governo do ex-presidente Michel Temer e ampliou sua participação política no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de ameaçar continuamente o processo eleitoral em 2022.

No dia 8 de janeiro, enquanto os prédios governamentais em Brasília eram vandalizados pela multidão enfurecida, um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) foi discutido e 2.500 militares foram mobilizados, prontos para responder à escalada da situação. Se tal decreto tivesse sido assinado, as Forças Armadas seriam responsáveis ​​por controlar a segurança da capital federal do Brasil. Lula, ao contrário, decretou uma intervenção federal “na área de segurança do Distrito Federal”, nomeando Ricardo Capelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça, para comandá-la. Posteriormente, o presidente declarou que se tivesse feito uma GLO, “então estaria acontecendo o golpe que essa gente queria”.

O envolvimento dos militares nos atos de 8 de janeiro está sendo investigado. Muitos membros da reserva das Forças Armadas participaram dos atos. Também estão sendo investigados os motivos pelos quais o Batalhão da Guarda Presidencial, batalhão do Exército responsável pela segurança do Palácio doPlanalto, não impediu que os manifestantes invadissem a sede do governo.

“Teve muito gente conivente. Teve muita gente da PM conivente. Muita gente das Forças Armadas aqui dentro conivente. Eu estou convencido que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar porque não tem porta quebrada. Ou seja, alguém facilitou a entrada deles aqui”, disse Lula.

Após a instauração da intervenção federal, as forças de segurança, comandadas pelo interventor Ricardo Capelli, reprimiram e prenderam os manifestantes golpistas. O Exército mobilizou veículos blindados para bloquear e impedir que a polícia entrasse no acampamento e prendesse os responsáveis ​​no dia 8 de janeiro. Segundo o Washington Post, o comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, disse ao ministro da Justiça, Flávio Dino: “Você não vai prender as pessoas aqui”. A polícia só foi autorizada a entrar no acampamento no dia seguinte.

Este incidente é apenas uma manifestação do que as Forças Armadas vêm dizendo desde novembro de 2022: que se consideram um Poder Moderador e que não permitirão – mesmo após a destruição de 8 de janeiro – que “agentes públicos” pratiquem qualquer ato que considerem uma “restrição de direitos” dos golpistas.

O Exército deu guarida aos golpistas antes e depois de vandalizarem os prédios de Brasília e enquanto pediam uma intervenção do Exército contra o presidente. Ao mesmo tempo, não foi capaz de proteger o palácio presidencial de tal multidão. Isso envia uma mensagem clara sobre quem o Exército estava tentando defender e o que considera sua verdadeira missão.

No Brasil, torna-se cada vez mais urgente que as massas, que gritavam em coro “Sem anistia!” para Bolsonaro durante a posse de Lula em 1º de janeiro de 2023, incluam os militares em sua demanda.

Artigo republicado do portal do qual somos parceiros Globetrotter


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