Caminhos
tortuosos esperam o governo lula
Sim os caminhos que o governo tem a frente são
cheios de tortuosidades, armadinhas, sinucas de bico. Dai os riscos do
comportamento arame liso.
A expressão, eu ouvi pela primeira vez no Linha de Passe, da ESPN Brasil, à época com Mauro Cezar. O Mauro usava a expressão para
se referir ao Flamengo, ante da era Jesus.
Trata-se do time que tem boa iniciativa, cutuca
o adversário constantemente, mas não liquida a partida e acaba perdendo ou
empatando.
Posso estar totalmente enganado, mas acho que
em duas frente importante, o governo Lula está sendo arame liso.
Primeiro a frente militar. O governo vai
deixando passar a oportunidade de enquadrar em definitivo os militares,
instituir por que caminhos vai providenciar uma investigação séria da
participação dos milicos nas ações golpistas. O tempo ta passando, os militares
estão em baixa, a hora é agora. Veremos mais adiante por que isso é importante.
Segundo, o governo precisa agir contra
políticos golpistas, todas a armas à disposição tem que ser usada para atacar
os políticos que financiaram, participaram, incentivarem, os atos golpistas
violentos desde o 12 de dezembro. Ali se abriu uma brecha para atacar esses
políticos. Assim como no futebol, o momento de ofensiva deve ser convertido em
gol ou você se arisca a levar um gol.
As ações desse senador Do Val mostram que a
direita não está na defensiva, pelo contrário, ela continua na ofensiva,
pautando a discussão no país. Articulando formas de minar a credibilidade do processo
eleitoral, do próprio governo e das próprias investigações.
É urgente reagir, tem que parar de mimimi, usar
toda a estrutura de comunicação para denunciar o descalabro do governo, o
sucateamento da área social. Quem quiser que defenda o extermínio dos
ianomâmis, que justifique as inações do governo anterior na área social, é esse debate que deve ser colocado, paralelo as medidas de correção, como política de
moradia, reestruturação do bolsa família, etc.
O ministério da cultura deve agir rapidamente
para recolocar a organização de pé. Consultas previas já devia ser disparada
nas diversas regiões. Há muita coisa a ser feita que não depende de dispor de
verbas imediatamente, no nível da organização. Cultura não é só a distribuição de
verbas.
Ora, dirão alguns, o governo mal começou, o governo
está indo bem e está
Mas não basta, tem que fazer mais, tem que
atacar a direita enquanto o momento é favorável.
O cenário ali na frente
O que teremos este ano e no próximo? O que
temos hoje?
Hoje temos um cenário onde só não saiu um golpe
por falta de sustentação externa. Ai vem
O governo de Biden, leitor de teleprompt, que não
tinha outra saída a não ser apoiar o governo Lula, mas é um apoio meia boca, já que o governo estará numa posição diametralmente oposta aos objetivos do Deep State.
A linha Lula envolve reforçar laços regionais e
internacionais que favoreçam a industrialização brasileira. Sem se dizer
nacionalista, o governo lula é um governo nacionalista, apoiado no conceito de
desenvolvimento de uma independência de fato, com aqueles requisitos essenciais
de todo país realmente independente:
Autossuficiência/segurança alimentar,
desenvolvimento da capacidade de dissuasão, industrialização.
Isso passa pelo estreitamento de relações com o
Sul Global, com uma retomada da participação brasileira no BRICS, com nossa
inserção no Cinturão e Rota com seus trilhões em investimentos.
Esses requisitos estão no horizonte do governo
Lula e isso é incompatível hoje com as diretrizes do DeepState. O capital
rentista norte americano precisa de países com reservas minerais e potencial
agrícola como o Brasil, frágeis, manobráveis politicamente, integrados de forma
subalterna a lógica rentista. Portanto o atual apoio de Biden deve ser visto
com desconfiança até porque os EUA não são amigos de ninguém, como os eventos
das últimas três décadas testemunham.
O mundo baseado em regras, é o mundo baseado em
regras americanas e, essas regras são claras: estejam conosco ou contra a
gente. No último caso, aguente as consequências da diplomacia do dólar/canhão. Diplomacia
traduzida em guerra hibrida, sanções econômicas, confisco de bens, revoluções
coloridas golpes institucionais, enfim todo o acervo Maidan. Por tudo isso, o atual apoio norte americano é
frágil, débil, instável. Enfim, não dá para confiar no Tio Sam.
Mas....vamos supor que Biden seja um bom moço
com o Brasil. Nesse ano, meados dele, começa a aquecer a disputa pelo poder
formal nos EUA. A extrema direita está bem colocada para esta eleição, apesar
das derrotas nas eleições de meio de ano passado.
Um muito possível retorno de Trump reforça
muito o bolsonarismo aqui e as condições para um maidan made in Brasil estarão
prontas, por isso é preciso atacar agora. Desarticular ao máximo a extrema
direita. Se seguir agindo no modo arame liso, poderemos amargar uma grande
derrota.
Na cena internacional nossa posição é frágil,
difícil acreditar que, no cenário atual haja espaço para essa terceira via que
lula professa.
Primeiro a diplomacia americana está sendo muito
explicita em relação aos países, ou seja, reduziu seu discurso em termos
simples. Você está conosco, podemos contar com você? Se a resposta for uma
ambiguidade a ala Lula, a interpretação não assumida publicamente é: precisamos
dar um jeito nesse país.
Ou seja, não há espaço para talvez, o deep
state tem uma agenda que pressupõe um mundo submisso às internacionais a moda
americana.
A postura brasileira em nada agrada ao deep
state. Lula tem falado em Segurança alimentar, indústria naval (leia-se forças
de dissuasão) controla de nossas fontes energéticas, controle do nosso petróleo,
ou seja, tudo que leva a afirmação da soberania do país, tudo que não interessa
aos EUA.
Por outro lado, uma postura muito vacilante em
relação aos principais temas mundiais levará a uma pouca importância do ou a
uma redução da importância do Brasil no grande jogo.
Cada vez mais se aprofundam iniciativas como a
desdoralização da economia por parte do sul global. Os movimentos dos BRICS por
exemplo, China e Rússia e um pouco mais lentamente Índia, estão aumentando suas
reservas fora do Dólar, seja em ouro seja em yuan, a moeda chinesa. Os acordos
da China com a Arábia Saudita, por exemplo, terão um forte impacto nessa trajetória.
A China dispõe de capital e esse capital chinês
seria muito importante para o Brasil, sobretudo se negociarmos melhor nossos acordos.
Corremos o risco ao manter uma postura muito
blasé em relação ao que se passa no mundo e perderemos excelentes
oportunidades.
É mais um desses momento em que o Brasil tem
que responder à pergunta. O que você quer ser, quando você crescer?