terça-feira, 9 de janeiro de 2024

GUERRA NA UCRÂNIA: IMPLICAÇÕES

 


GUERRA NA UCRÂNIA

 POR: ISAIAS ALMEIDA*

RESUMO

 

De dezembro de 2021 a janeiro de 2022, a Rússia tentou forçar uma negociação com o Ocidente para resolver a questão do armamento constante da Ucrânia, argumentando que isso colocava em risco a segurança da Rússia. Isso ocorreu depois de a Ucrânia, por instigação do Ocidente, continuar a se armar e atacando as regiões de maioria russa dentro da própria Ucrânia. Estimativas da ONU dão conta de 10 mil mortos nesses ataques desde 2014, quando um golpe na Ucrânia destituiu um presidente pró Rússia  colocando em seu lugar um presidente pró Ocidente. Na época, Odessa foi duramente castigada por resistir ao golpe e a Crimeia, depois de um plebiscito, decidiu ficar com a Rússia.

Houve uma frenética insistência Russa, inclusive com a divulgação, que a mídia Ocidental fez questão de ignorar, de documentos enviados a Washington pela chancelaria russa, pedindo uma rodada de negociações para evitar o pior.

Diante das negativas do Ocidente a Rússia foi forçada a entrar na Ucrânia para proteger o Dombas, região de maioria Russa. Assim, em fevereiro de 2022, tropas russas entraram em Donetsk, Karkov e outras regiões, o exército russo avançou até perto de Kiev, capital da Ucrânia. A essa altura a Rússia ainda queria evitar a guerra, já que na visão dos russos trata-se de uma guerra civil, são povos eslavos, com raízes no império russo.

Em março de 2022, a Rússia busca negociações para evitar a continuação das hostilidades, mas uma ação efetiva de Boris Johnson e dos EUA frustram as tentativas de negociação. Assim começa a guerra.

A Rússia invade os territórios e vários são anexados, mas a Ucrânia devidamente armada e treinada pelo Ocidente reage, reconquistam pequenas áreas, mas não detém o avanço russo.

Nesse ponto é preciso esclarecer, o Ocidente apostou nesse conflito com a esperança de quebrar a resistência russa à uma integração subordinada aos interesses da OTAN e dos EUA. Não funcionou.

Vejamos os objetivos do Ocidente:

- Desgastar a capacidade militar russa;

- Destruir a economia russa através de pesadas sansões;

- Criar uma crise interna de tal ordem que levasse a queda de Wladimir Putin.

Bem, nenhum dos três objetivos foram alcançados.

A indústria militar russa se reestruturou mais rápido do que o previsto, além de ter em alguns campos, uma clara vantagem tecnológica em relação ao Ocidente.

As sansões contra a economia russa provocou dois efeitos: levou a Rússia a aumentar seu comércio com Oriente e a Ásia, graças as suas imensas reservas de gás e petróleo e produtos agrícolas e, uma economia que se mostrou bastante resiliente aos boicotes ocidentais, além de ter capacidade de substituição de importações acima do esperando no Ocidente.

Acordos de longo prazo foram assinados entre Rússia e China e entre Rússia e Índia, uma maior aproximação com o Irã e a Coreia do Norte, garantiram a Rússia inclusive acesso a mais armamentos.

Enquanto as economias da Zona do euro despencam a Rússia vai ter crescimento. Asa previsões desse ano para o ano 2023 são de 2,8 para Rússia e 0,6 para a zona do euro

Outro efeito das sanções foi provocar, acelerar a crise na Europa A questão habitacional se tornou crônica. Na década de 1970 os europeus gastavam em média 1/5 do salário com aluguel, hoje pode variar de 50 a 70%, a solução para muitos tem sido se mudar para longe dos centros urbanos e vivenciar o que os trabalhadores do mundo em desenvolvimento vivenciam, ter que passar horas no transporte para o trabalho. Para o europeu é uma experiência nova.  

A destruição dos Nortstream, os grandes gasodutos partindo da Rússia com destino ao resto da Europa, orquestrada pelos EUA, colocou a Europa numa situação crítica, tendo que pagar aos americanos um valor até 7 vezes maior que o oferecido pelos russos. A classe trabalhadores nesses países é quem está sofrendo as consequências dessa estupidez.

Quanto a crise interna na Rússia com a derrubada de Putin, também não correu como previsto nos sonhos molhados dos otanicista e atlanticista.

Putin enfrentou uma tentativa de motim, organizada por Prigozhin, o homem do PMC Wagner, empresa privada militar, importante na conquista de Barkmut, o motim foi facilmente debelado e Prigozhin acabou morto. O episódio reforçou a autoridade de Putin e ao que tudo indica, uniu ainda mais o país.   

No terreno militar as coisas não vão nada bem para as forças Ocidentais. Em julho de 2023 foi anunciada, com pompa e circunstância, uma contraofensiva ucraniana que poria a Rússia de joelhos. Nós estamos em janeiro e, nada ainda.

A tal contraofensiva se deparou com uma bem armada defesa Rússia em toda a linha de contato. O exército ucraniano se viu preso em um moedor de carne em Barkhmut, (Artemovsk em russo). Depois de pesadas perdas em homens e equipamentos por parte dos ucranianos, a Rússia tomou Barkhmut, e agora mais recentemente conquistou Marinka e avança para Adveevka.

A questão militar será objeto de um boletim a parte.

Vamos tratar das implicações desse conflito. A brutal ofensiva ocidental em termos de sanções provocou vertigens no sul global, muitos países começaram a raciocinar da seguinte forma. Se um país desagrada ao império, eles simplesmente tomam todo o seu dinheiro? É assim que a banda toca?

Ah mais isso é com a Rússia. Acontece que a Rússia é uma potência nuclear, se faz isso com a Rússia, o que não fará conosco? Veja a Venezuela, foi literalmente roubada. Ai já viu, um monte de gente fez fila nas portas dos BRICS.

2023 marca um momento em que o grito de liberdade se transformou na seguinte expressão: Desdolarização. Resultado, a 20 anos atrás 70% das transações internacionais entre países eram feitas em dólar, hoje está em 50%. Só não caiu mais ainda por que a China tem zilhões de ativos em dólar, mas tanto China quanto outros países vêm diminuindo sua participação na farra que os EUA fazem com sua moeda.   

Os BRICS tomaram um novo folego ao serem vistos cada vez mais com uma alternativa ao ”mundo baseado em regras do Ocidente”, as regras deles, para benefício deles claro.

Como está cada vez mais evidente que a guerra na Ucrânia não vai dar os frutos pretendidos o Ocidente se volta cada vez mais para a crise no Oriente Médio, para além do genocídio em Gaza, está a questão de controlar o Oriente. Durante muito tempo os EUA nadaram de braçada na região, manietando os conflitos regionais a seu bel prazer.

Um dos atos mais perversos foi o ataque ao Iraque para que este se pusesse sob seu controle. Fracassou na medida em que, mesmo derrubando Saddam com toda sorte de mentiras, não conseguiu estabelecer um controle efetivo da região. O Iraque, pós invasão, se tornou uma terra arrasada com altas no custo de vida, parte da população na pobreza quase absoluta, e nada de reconstrução do país, muito menos da sua economia. Resultado, o Iraque está cada vez mais próximo da China e da Rússia, com o atual governo trabalhando ativamente para se livrar de uma vez por todas, da presença militar americana.

O Afeganistão vivou um atoleiro do qual os EUA saíram com o rabo entre as pernas, e gente pendurada nos aviões.

A Síria foi destruída por puro capricho, sem nenhuma necessidade, sem nenhum ganho visível, para o povo sírio certamente não, está sendo salva pela Rússia, que está ajudando o país a lutar contra terroristas manietados pelos EUA.

Enfim onde o império colocou suas botas, não cresceu prosperidade, não melhorou a vida das pessoas, nem ele conseguiu se estabelecer de forma consistente.

A bola da vez é a Palestina e, logo ali na esquina, Taiwan.      

                

 *Professor aposentado das redes públicas e privadas. Especialista em Historia do Brasil. 

 

sábado, 6 de janeiro de 2024

GAZA: Verdadeiro genocídio

 

Verdadeiro genocídio

 


Israel é culpado de verdadeiro genocídio, pelo menos parcial, porque a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio oferece a seguinte definição no seu Artigo II:

 

“Na presente Convenção, genocídio significa qualquer um dos seguintes atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:

 

a) assassinato de membros do grupo;

b) lesão grave à integridade física ou mental dos membros do grupo;

c) submeter deliberadamente o grupo a condições de vida destinadas a provocar a sua destruição física, total ou parcial;

d) medidas destinadas a prevenir nascimentos dentro do grupo;

e) transferência forçada de crianças de um grupo para outro. ”


Deixando de lado o elemento indescritível da “intenção”, é claro que a, b e c se aplicam ao caso palestiniano. Na verdade, à questão colocada pela Time, Raz Segal, um judeu israelita que vive nos Estados Unidos e dirige o programa de estudos do Holocausto e do genocídio na Universidade de Stockton, responde que a operação desencadeada por Netanyahu contra Gaza "é um caso clássico de genocídio". Até mesmo uma comissão de peritos das Nações Unidas conclui que "os palestinianos correm grave risco de genocídio", e o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, tal como muitos líderes árabes, condenou Israel pelos seus crimes de guerra e, explicitamente, pela tentativa de genocídio.

sábado, 23 de dezembro de 2023

“True Detective” 10 anos depois

 


O homem nasce com dificuldade,

E o nascimento é um risco de morte.

Sinta dor e tormento

Em primeiro lugar; e logo no começo

A mãe e o pai

Ele se consola por ter nascido.

Leopardi, “Canção noturna de um pastor errante da Ásia”




“O universo é um esgoto”, começa Rustin Cohle, chapado de nojo do mundo.

Falando em cloaca, nosso detetive gnóstico está todo empenhado em seu parceiro impulsivo que tenta resistir ao vórtice de niilismo lúcido de seu colega.

Em janeiro de 2014 estreou True Detective , primeira temporada da série de Nic Pizzolatto, à qual este escrito é dedicado. Nele trataremos apenas da primeira temporada e daremos como certo, não explicaremos os fatos narrados, mas ofereceremos algumas das referências filosóficas que alimentam e surgem da própria série.

Elemento água, jornada infernal

No desenrolar dos 8 episódios vemos a água se manifestar em todas as formas: enchentes, lodo de pântano, margens nunca transparentes, sob palafitas e no céu plúmbeo, “este lugar estará submerso em trinta anos” diz Rust olhando pela janela . Ele não está apenas dizendo que o nível dos rios subirá, mas que tudo está destinado a perecer e que a verdade, entendida como uma essência metafísica, nunca virá totalmente à tona. A água, que muda de forma em cada recipiente, é uma substância incontrolável como o rio do destino de Maquiavel; elemento fatal e imprevisível. Uma espécie de malária moral infecta esses lugares infectados: “Navegamos em águas turvas, jacarés nadam ao nosso redor, mas não os vemos”, observa Rust no penúltimo episódio. Não é por acaso que uma enchente teria “perdido” os arquivos do Programa Sorgente (mais água!), que continham indícios de uma rede de pedofilia.

Ao longo deste Estige estrelado os dois fazem sua jornada infernal sem um psicopompo sábio para acompanhá-los: eles encontram uma mulher com as unhas desgastadas por detergentes tóxicos, prostitutas torturadas, pedófilos, traficantes de drogas, sádicos, pessoas incestuosas, loucos, infanticídios, crianças vítimas de abuso, sacrifícios humanos e seitas satânicas. A feita por Rust e Marty é uma viagem vertical, e não apenas horizontal, até o rio Cócito. Lembremos que Dante descreve o centro do submundo como um lago congelado e não como um lugar brilhante. Os dois, sem a orientação de Virgílio, encontram todo tipo de pecadores, e Ferrugem - como um Sócrates com maiêutica implacável - os empurra a confessar. No quinto episódio ele diz: “todos temos algo errado, os culpados querem que a confissão seja catártica, principalmente os culpados, mas todos são culpados”. Aqui Rust refere-se à culpa de existir, de fazer parte do jogo canibal da existência. Entre os pântanos insalubres da Louisiana cósmica, o verdadeiro investigador não procura alguém culpado de um crime, mas investiga as raízes do mal. Numa referência contínua entre o inferno americano e o inferno de todos os seres terrestres, os dois iniciados completam a sua catábase.

 

"Em pânico"

 

No terceiro episódio os dois assistem à missa de um pregador aos gritos elogiado por uma multidão hipnotizada; “O mundo é um véu”, diz o pastor, cujos sermões às vezes parecem os ensinamentos de um monge budista (embora muito entusiasmados).

“Se a única coisa que torna uma pessoa certa é a perspectiva de uma recompensa divina, então irmão, essa pessoa é um pedaço de merda”; Comentários de ferrugem. Ele quer provocar o crente Marty, afirmando que a religião serve apenas para coibir impulsos cruéis e obscenos, mas que não existe ética verdadeira se o comportamento for guiado pelo medo do castigo e não por uma adesão sincera ao bem. Segundo Rust, os fiéis que participam da missa exaltada, se fossem desprovidos de um dogma moral, fariam as mesmas coisas que fazem agora, mas em plena luz do dia; sem fé “assistiríamos a um espetáculo de assassinos e depravados”. A religião piora as coisas, porque esconde atrocidades, mas não as evita.

 

Marty responde a Rust, que o vê em pânico. É hilário que ambos tenham suas razões, opostas e complementares como um demônio dionisíaco e um espírito apolíneo. Marty também está em pânico porque a fé não basta, a distração de um amante não consola, a idade avança e as inseguranças da virilidade também, a família é chata e a justiça não é algo ao alcance da terra e dos homens . Rust e Marty lutam um contra o outro e consigo mesmos em uma batalha metafísica entre a Natureza e a Graça. E não existe um sem o outro. Rust, que às vezes parece tão cínico e desumano, é acima de tudo um pai que perdeu a filha. Só o calor de uma família seca a umidade daquele pântano de luto que levou à intelectualização de sua dor. Marty acredita menos na vida do que parece e Rust a ama mais do que parece: um yin yang de colegas, amigos, cúmplices e rivais que se enfrentam e se complementam.

 

No Diálogo de uma Islandesa com a Natureza , Leopardi não delineia uma Natureza Madrasta, aliás ela é indiferente ao destino dos seus filhos, nem mãe nem madrasta. É um pouco como o único escudo aparentemente científico de Rust. Porém, o seu desencanto não é positivista, mas sim uma visão mística de origem oriental, remete à impermanência budista, aos conceitos de Maya e L?l?. A ferrugem não é desprovida de espiritualidade, mas livre de superstição. As perguntas assustadoras do poeta de Recanati ecoam em Rust: “Quem gosta ou se beneficia desta vida mais infeliz do universo, preservada com danos e morte de todas as coisas que o compõem?” pergunta o poeta em Zibaldone. A própria existência do mundo baseia-se numa lei cósmica: não há “nada nele que esteja livre de sofrimento”.

 

 

Rust afirma “Tudo é nada, nada sólido” de Leopardi assim: “Vi o epílogo de milhares de vidas, senhores: jovens, velhos e todos tão seguros de serem reais, convencidos de que sua experiência sensorial compôs um indivíduo único com um propósito, com significado; tenho certeza de que você é mais do que um fantoche biológico, mas a verdade vem à tona e uma vez cortados os fios você cai no chão”, diz ele laconicamente enquanto folheia fotos de cadáveres do arquivo da polícia estadual. A morte revela que a vida é uma ilusão. Não garante sentido à vida humana e ao mesmo tempo não a liberta do eterno retorno do sofrimento. “A dor precedeu tudo, até mesmo o universo”, escreveu Cioran, que se inspirou fortemente nas tradições orientais. Na tradição budista, a dor e o desejo estão inextricavelmente ligados e a única maneira de escapar deles é o desapego, a rejeição do samsara, o que Rust chama de “rejeição da programação”.

 

A Natureza, enquanto dorminhoca, segue os seus instintos, enquanto Rust está determinado a “explorar a sua insónia”; vemos o contraste entre a Ferrugem que não consegue dormir e o universo que está como que adormecido, na sua condição de devorador inconsciente, na sua repetição automática. O filósofo da Transilvânia também dedicou algumas páginas intensas à sua própria insônia: “A tragédia da insônia é que o tempo não passa. Você está deitado no meio da noite e não faz mais parte do tempo. Mas você nem está na eternidade. O tempo passa tão devagar que se torna uma agonia. Todos nós, na vida, somos arrastados pelo tempo, porque estamos no tempo. Quando você fica acordado assim, você fica sem tempo. Então o tempo passa fora de você e você não consegue acompanhá-lo."

 

 

 

 

A claustrofobia do eterno retorno

 

O homem está prisioneiro no crânio das suas próprias percepções e da ilusão cronológica da sucessão dos acontecimentos: o tempo promete mudança enquanto nada pode mudar, apenas repetir-se. O tempo anuncia o fim da dor, mas essas salas de tortura se repetirão sem fim nem alívio. “Por que eu deveria viver na história? O mundo é um círculo plano e essas crianças estarão naquela sala repetidas vezes”, diz aos dois policiais que não entendem a profundidade filosófica do seu interlocutor; na realidade é Rust quem conduz o interrogatório, transformando-o num julgamento inquisitorial contra a raça humana e o seu criador.

 

No terceiro episódio, Rust fala sobre “a armadilha da vida: a ideia de que algo pode mudar, um movimento, o amor, a realização; a realização não é alcançada e nada realmente termina.” Na realidade nada pode mudar, apenas se repetir num pesadelo ofegante. O homem nunca se levanta.

 

O homem não deveria conhecer a claustrofobia do eterno, porém houve o acidente da consciência, uma aberração evolutiva ou uma nefasta anormalidade da criação como escreve o filósofo norueguês Zapffe, um erro do Demiurgo Condenado. No paradigma de Zapffe, Marty incorpora a ancoragem e Rust representa a sublimação, duas respostas à falta de sentido na existência. Marty se apega com todas as suas forças a valores como família, justiça, religião, bem contra o mal; para Rust, que agora encarou o abismo nietzschiano, tudo o que resta é ironia e paradoxo.

 

A gratidão da inexistência, da Ferrugem niilista ou mística?

 

Leopardi, em O pastor errante da Ásia, escreve que a primeira coisa que os pais fazem quando seu filho vem ao mundo é consolá-lo porque ele está chorando. Rust não consegue mais fazer isso, está dividido entre dois desesperos: a morte de sua filhinha e o sofrimento do mundo, que ele testemunha impotente. Ao mesmo tempo, porém, a morte evitará decepções, amarguras e sofrimentos para o seu filho. No segundo episódio, sobre a perda da filha ele diz: “às vezes eu agradeço por isso, pelo que ela foi poupada” e “Quando você morre adulto você cresceu e o estrago está feito”. O dano é a vida. Como não pensar na oferenda de Sócrates a Asclépio por lhe ter dado a morte? Na Grécia antiga era costume doar um galo como agradecimento pela recuperação de uma doença ao deus da medicina, Asclépio. Por isso, quando Sócrates sabe que vai morrer (condenado pelo tribunal), recomenda aos seus seguidores que ofereçam um galo ao deus no momento da sua morte: porque a morte é a cura da doença.

“Acho presunçoso querer teimosamente tirar uma alma da inexistência e amarrá-la à carne para arrastar uma vida para este triturador” Rust deixa escapar. Schopenhauer disse assim: “Imagine um demônio criativo: você teria o direito de gritar para ele, apontando para sua criação: «Como você ousou quebrar a paz sagrada do nada para criar tamanha massa de dor e miséria?» ” [6] .

 

Em A conspiração contra a raça humana, T. Ligotti ousa discutir o princípio intocável em que se baseia a história humana, segundo o qual vale a pena viver, viver é uma coisa boa e adequada. Este mandamento é o combustível de qualquer ideologia, e o pensamento contrário é o tabu dos tabus. A história humana desenvolveu-se com base no preceito cristão da indisponibilidade da vida e da sua bondade, enquanto uma corrente filosófica herética levou adiante o seu niilismo Carbonaro, até à pergunta de Camus: "Só existe um problema filosófico verdadeiramente sério: o de  suicídio ”. Por que não o suicídio?

 

“Na eternidade nada pode crescer, não há devir, portanto, a morte gerou o tempo” explica uma Ferrugem suprema. O mal, portanto, a dualidade (diabo também significa separador) e o conflito, são necessários para que não exista apenas o Um, ou seja, a esterilidade perfeita e pacífica de Deus.

“Acredito que a consciência humana é um trágico passo em falso da evolução, estamos muito conscientes de nós mesmos, a natureza criou um aspecto da natureza separado de si mesma , somos criaturas que não deveriam existir pela lei da natureza (… ) somos programados para acreditar que cada um de nós é importante enquanto somos todos insignificantes. Acredito que a coisa mais honrosa para a nossa espécie é rejeitar a programação, parar de se reproduzir e caminhar de mãos dadas rumo à extinção.” A ferrugem está suspensa entre o caminho do místico, a dissolução da identidade no Infinito e o niilismo mais sombrio. Mas as duas figuras não são nada opostas! Encontramo-nos diante de duas tríades conceituais, compartilhadas pelo niilista e pelo místico: Eternidade-Unidade-Ser e tempo-multiplicidade-devir.

A tríade do devir, com o tempo, da morte e da sexualidade produz samsara e apego. Pelo contrário, a tríade Eternidade, vida, unidade, conduz ao Nirvana (desejo de Schopenhauer), o que Rust chama de "rejeição da programação"

A religião ocidental não foi capaz de escolher entre o Nirvana e o samsara, preferiu tentar salvar tanto a vida terrena como o Céu. Deste círculo metafísico surgiu um curto-circuito: a nossa Igreja louva o Céu, mas permanece desesperadamente ligada à terra.

Carcosa, última jornada

Os dois protagonistas devem entrar em contacto visceral com o mal se quiserem enfrentá-lo: devem despir os uniformes, a lógica do mundo, não podem mais cumprir a sua missão enquanto permanecerem membros da polícia, devem libertar-se de instituições humanas se quiserem realmente empreender uma batalha sobre-humana.

Eles se encontram assim na horrível propriedade de Errol Childress, o homem da cicatriz, que mora em uma grande casa perdida no bayou, um ecossistema pantanoso infestado de mosquitos, em estado de degradação e abandono. Aqui ele tem um relacionamento mórbido com sua meia-irmã mentalmente instável, a quem, para se emocionar, faz com que ela lhe conte sobre o estupro que sofreu por parte de seu pai. Em um barraco próximo à casa, totalmente coberto pelos símbolos recorrentes em todos os episódios, o homem mantém o pai e dois filhos cativos amarrados a uma cama. Uma briga com o mal quase leva os dois heróis sem distintivo à morte. Mas aqui o mal não é senão sofrimento: degradação higiénica e emocional, marginalização social, perversão emocional e sexual. Monstros são filhos de monstros, Pizzolatto parece nos dizer. O pai tinha marcado o filho que, por vingança, lhe coseu a boca: naturalmente é outro símbolo, o mal é indizível.

“Para ver as estrelas novamente”

Ao acordar do coma, Cohle revela a Hart o remorso que o domina: ele já havia entrado em contato com aquele homem aparentemente tão gentil e sem suspeitar de nada, deixou-o agir tranquilamente durante anos. Afinal, é o que Marty chama de “maldição do detetive”: o culpado está bem debaixo do seu nariz, a solução para o enigma está próxima, mas você não a reconhece. Mas isto não acontece apenas com o policial, é uma espécie de impedimento epistemológico do qual o homem é vítima e culpado ao mesmo tempo. A Noite Escura da Alma de João da Cruz narra o caminho da alma rumo à união com Deus, que ocorre durante a “noite”, que representa as “adversidades” e os “obstáculos” que ela encontra para se desligar do “mundo sensível”. para alcançar a “luz” da união com Deus.É noite quando os dois heróis de um mundo que não pode ser salvo saem do hospital para fumar e admirar as estrelas. Nenhuma prisão derrotará o mal porque “há sempre peixes maiores” para pescar. Mas sobretudo porque a nível ontológico o mal não pode ser extinto; sem dualidade entre o bem e o mal não há mundo terreno. A vida terrena é de facto a consequência do pecado de ter caído – devido à dualidade e através da procriação – ao longo do tempo. O horror é tão constitutivo da substância interestelar que, se parasse de transbordar de sofrimento e conflito, “o próprio universo deixaria fisicamente de existir”, escreve Cioran.

Mesmo que você não consiga vencer o mal, isso não significa que você está autorizado a desistir e desistir, você deve prosseguir além de cada fracasso, sem esperança, mas sem medo. O final é explosivamente dantesco e claramente alinhado com o culto maniqueísta: “A única história que sempre existiu é a luta da luz contra as trevas. Parece que a escuridão está vencendo. Mas antes havia apenas escuridão."

                                                                          Giulia Bertotto 

Publicação original  no Antidiplomatico



terça-feira, 8 de agosto de 2023

LEVANTE ANTICOLONIAL NO NÍGER

 

Imagem AFP

Milhares de pessoas estão mobilizadas nas ruas para apoiar o Conselho Nacional de Proteção à Pátria, o grupo de oficiais que assumiu as rédeas do país, com palavras de ordem e palavras de ordem contra seu ex-colonizador: " Abaixo a França", " Saia das bases estrangeiras", "Por uma nova ordem", "Niger to Nigeriens".

Os acontecimentos no Níger mostram a precarização e falência do imperialismo francês. os povos de África que tiveram o prazer macabro da dominação europeia segue se levantando, dessa vez, para expulsar as dorças de ocupação do seu território via bases militares, empresas privadas de segurança para defender a exploração dos recursos naturais da região.

Os projetos mais ambiciosos dos europeus no meio ambiente se assentam no controle de países africanos, onde países da Europa projetam grandes estruturas para garantir energia limpa no continente europeu às custas do povo africanos.

Os movimentos atuais nos países africanos indicam que não será tão simples assim. Vejam o que esta acontecendo no Níger nessa mateira do Antidiplimatico. LEIA AQUI     

sexta-feira, 28 de julho de 2023

A HISTERIA OTANICISTA EM VILNIUS : SÓ A DESTRUIÇÃO INTERESSA

 

A cúpula da OTAN de julho em Vilnius teve a sensação de um funeral, como se tivessem acabado de perder um membro da família – a Ucrânia. Para eliminar o fracasso da OTAN em expulsar a Rússia da Ucrânia e mover a OTAN até a fronteira russa, seus membros tentaram reviver seus ânimos mobilizando apoio para a próxima grande luta – contra a China, que agora é designada como seu inimigo estratégico final. Para se preparar para este confronto, a OTAN anunciou o compromisso de estender sua presença militar até o Pacífico.

Outra excelente analise de Michael Hudson 

Leia a integra AQUI

quarta-feira, 19 de julho de 2023

SCO - IRÃ? PRESENTE

 

Depois de um processo há muito esperado de 15 anos, o Irã finalmente alcançou um marco significativo em 4 de julho: a adesão plena à prestigiada Organização de Cooperação de Xangai (SCO), a mais importante aliança de segurança do leste.

Este evento marcante não apenas marcou o Irã como a primeira nação da Ásia Ocidental a se juntar a este poderoso grupo asiático dedicado à segurança, economia e cooperação humanitária, mas também solidificou a posição da SCO com uma linha formidável de membros, incluindo China, Índia, Tadjiquistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão, Rússia, Paquistão e agora Irã.

Veja como esse processo se deu nesse artigo do Mohamad Hasan Sweidan no The CRADEL  

quarta-feira, 21 de junho de 2023

QUAL A REAL CAPACIDADE MILITAR RUSSA?

 Há muito tempo eu venho querendo escrever sobre isso. Qual a capacidade  da Rússia de manter uma guerra contra todo o ocidente atlanticista?

A medida que a OTAN e os EUA entopem a Ucrânia de equipamento militar , de lado a Rússia vai montando defesas sem avançar em direção a Kiev, a duvida que me assaltava é , e ai, a Rússia teria capacidade militar para prolongar esse conflito por mais tempo?

A outra questão é qual a espécie de armas que estão em jogo nesse conflito. Um detalhamento técnico das armas também pode ser visto no artigo do Andrey Martyanov, falo dele a seguir.

Andrey Martyanov é considerado por muitos, como o maior especialista militar da Rússia. Opinião endossada por muita gente de peso fora da Rússia também. Dos que li , realmente ele é superior.

Tem uma analise dele da capacidade e do desgaste do exército ucraniano que é essencial para se entender o que ocorre no campo de batalha atualmente, considere ler esse material, é impressionante.

Mas, vamos a adaptação que fiz do artigo para colocar aqui

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MUNIÇÕES

As plataformas de armas usadas em batalha, como tanques, IFVs, lançadores MLRS e armas de cano (ou seja, canhões) são contadas com relativa facilidade no atual conflito na Ucrânia. Parece que a Rússia está bem equipada com armamento, mas a questão da reposição da munição para essas armas não é bem conhecida. Por “munição”, incluo foguetes, mísseis, bombas e munição de artilharia. Esses itens incorporam aço, alumínio, componentes eletrônicos e explosivos. Eles também exigem propulsores para serem entregues aos alvos pretendidos. Neste artigo, vou me concentrar nos propulsores e explosivos usados ​​nas munições descritas acima. Mas primeiro algumas generalizações:

Algumas das matérias-primas necessárias para a construção de munições, como aço, cobre, zinco e alumínio, provavelmente não são escassas porque a Rússia é produtora de todas essas commodities. Os metais podem ser trabalhados nas formas necessárias por forjamento, fundição ou desenho para fazer as caixas (ocas) de projéteis e bases de latão para munições de artilharia, ou os corpos dos mísseis e foguetes. Esta é uma tecnologia conhecida e facilmente escalável para produzir grandes quantidades, uma vez que uma força de trabalho experiente está disponível. Devido à natureza estratégica desses materiais, acredito que a Rússia manteve uma força de trabalho experiente nesta indústria pelo menos nas últimas décadas. Aliás, isso contrasta fortemente com o Ocidente, que deixou essa experiência definhar domesticamente ao terceirizar sua produção.

COMPONENTES ELETRÔNICOS

Componentes eletrônicos são usados ​​nos sistemas de orientação que controlam mísseis guiados, foguetes e bombas inteligentes. Dependendo da complexidade do sistema, a construção de tais armas pode apresentar um obstáculo técnico que pode limitar as quantidades de produção. No entanto, parece que a Rússia e seus aliados têm a capacidade combinada de fornecer quantos sistemas montados forem necessários para atender às necessidades atuais e provavelmente também atenderão às necessidades futuras.

Além disso, todos sabemos que a famosa Ursula von der Lyin' expôs a genialidade dos técnicos russos que, contra todas as probabilidades, conseguiram modificar os abundantes chips eletrônicos das máquinas de lavar para realizar as funções necessárias para os sistemas de orientação nessas sofisticadas munições aerotransportadas! (Ironia do autor)

 

FOGUETES E MÍSSEIS

A distinção entre foguetes e mísseis tornou-se obscura pela tecnologia. Os foguetes são geralmente usados ​​para aplicações que requerem alta velocidade e distância curta a média (pense em defesa aérea). Mísseis, por outro lado, são armas de impasse capazes de percorrer longas distâncias para atingir seu alvo. Mísseis (Cruzeiro) são geralmente movidos por motores do tipo turbina que usam combustível de hidrocarboneto líquido (combustível de aviação), enquanto a maioria dos foguetes usa propulsores de combustível sólido (perclorato), que aceleram o veículo a velocidades extremamente rápidas em um curto período de tempo. Os propulsores de combustível sólido são produtos especiais e provavelmente são produzidos em quantidades suficientes para atender a demanda no(s) conflito(s) atual(is).

Ambas as plataformas de armas carregam ogivas altamente explosivas, e a quantidade agregada de explosivo usada para todas essas armas é pequena em relação à quantidade usada em artilharia e outras armas (alguns mísseis carregam cargas consideráveis). É muito provável que a Rússia possa usar essas armas sem restrições, já que provavelmente são produzidas com alta prioridade devido ao seu caráter estratégico.

 

BOMBAS

As bombas convencionais devem ser transportadas perto da localização geográfica dos alvos antes do lançamento. Seu uso tem sido muito limitado devido a restrições de espaço aéreo na zona de conflito.

As bombas “inteligentes” modernas, no entanto, podem planar por mais de 40 km até um alvo, guiadas por dispositivos controlados eletronicamente ligados à bomba. De qualquer forma, as bombas não usam propelentes, mas dependem da altitude de lançamento para permitir algum movimento lateral para atingir o alvo. As bombas podem, no entanto, carregar uma grande quantidade de explosivos de alta potência e a eficácia das bombas inteligentes hoje é incrível.

O número de bombas usadas no conflito russo-ucraniano foi, até recentemente, limitado porque nenhum dos lados tinha supremacia aérea. No entanto, as bombas inteligentes adaptadas estão encontrando maior uso à medida que a Rússia usa sua superioridade aérea para lançar munições de média distância. A produção dessas armas, no entanto, depende apenas da fabricação dos sistemas de orientação para “aparafusar” o corpo da bomba. Os enormes estoques de bombas “burras” feitas no passado provavelmente são suficientes para que a produção de novas bombas não seja um fator limitante para sustentar a alta disponibilidade dessas armas.

Uma classe especial de bomba é a bomba de ar-combustível, projetada para gerar uma onda de pressão extrema dentro de uma área moderada onde a bomba é detonada. Essas bombas contêm líquidos que são dispersos na atmosfera (aerossol) na área alvo antes da detonação. Em questão de segundos, a nuvem de combustível é então detonada, e o combustível consome oxigênio do ar durante a detonação. A natureza especial dessas armas e a pronta disponibilidade dos combustíveis líquidos dispersíveis tornam provável que haja poucas limitações ao seu uso quando forem consideradas necessárias.

 

ARTILHARIA

Este termo refere-se a qualquer sistema de armas de grande calibre que utiliza um tubo (argamassa) ou cano para impulsionar a munição. Isso inclui tanques, obuses e outras armas de canhão. Esta categoria utiliza a maior quantidade de propelentes químicos e explosivos devido ao altíssimo número de disparos despendidos diariamente durante os conflitos modernos.

Usarei o redondo de 152 mm como padrão para fins de cálculo. Outros calibres são usados, mas 152 mm representa uma quantidade “média” de propelente e explosivo na faixa de calibres usados.

Para ter uma noção de proporção, vamos supor que a cadência desejada de fogo de artilharia seja em média 20.000 tiros por dia. São 7,3 milhões de rodadas por ano. A munição de 152 mm usa invólucros de aço que pesam, no máximo, 25 kg vazios. O aço necessário para esse número de conchas é de 183.000 toneladas métricas (MT) por ano. Isso equivale a 0,24% da capacidade siderúrgica da Rússia (75,6 milhões de toneladas/ano). Acho que é seguro dizer que a Rússia tem aço mais do que suficiente para fabricar os projéteis necessários para nossa cadência de tiro “padrão”. Quanto ao latão (a base que contém o propelente), a produção de cobre e zinco da Rússia excede em muito a quantidade necessária para o latão, e a reciclagem é comum.

Vamos adicionar mais clareza aos cálculos. Estima-se que a Rússia esteja produzindo atualmente cerca de 200.000 cartuchos de artilharia por mês. Espera-se que essa taxa pelo menos dobre, e precisaria triplicar para atingir a taxa de 7,3 milhões de rodadas por ano mencionada acima. É provável que os estoques de reserva ainda estejam disponíveis por algum tempo para permitir uma alta taxa de gastos por enquanto, e pode não ser necessário disparar a uma taxa consistente de 20.000 tiros por dia (mesmo com a “contra-ofensiva” da Ucrânia). Se assumirmos que a Rússia começou com 7,3 milhões de cartuchos no início do SMO, e eles usam 20.000 cartuchos por dia, mas produzem apenas 200.000 cartuchos por mês, então eles ficariam sem munições para esta classe de arma dentro de cerca de 17 meses desde o início . Isso seria em julho deste ano.

No entanto, a Rússia anunciou que dobrou a produção de rodadas, então eles devem estar produzindo 400.000 rodadas por mês agora. Se assumirmos que o aumento aumentou em fevereiro deste ano, a Rússia não se esgotaria até dezembro de 2023. Foi anunciado muito recentemente que a produção aumentou para cerca de 20.000 tiros por dia (de toda a artilharia), de modo que o taxa de produção aparentemente já mais do que iguala a taxa de gastos. “Mais do que”, porque devem contabilizar as perdas devido às ações inimigas.

 

CONCLUSÃO

As munições de artilharia são as munições de grande calibre mais comumente usadas na guerra terrestre. Se ocorresse escassez de munições estratégicas, provavelmente seria uma escassez de munições de artilharia. Nesta seção, compararemos o consumo estimado de munição de artilharia com a produção conhecida de matérias-primas (produtos químicos) necessários para a produção dos propelentes e explosivos usados ​​nessas rodadas. Eu fiz algumas suposições não tão educadas sobre o uso médio e a carga útil média e carga de propelente para rodadas de artilharia. Essas estimativas podem ser comparadas à capacidade de produção da Rússia das matérias-primas usadas na produção dessas rodadas.

Primeiro, listamos os produtos químicos necessários para a produção de munição:

1. A amônia é o material de partida para todos os materiais contendo nitrogênio usados ​​em munições. Isso inclui propelentes para projéteis de artilharia, bem como para os explosivos contidos nas ogivas. A Rússia produz > 12. O ácido nítrico, derivado da amônia, é usado diretamente na produção de explosivos e propelentes. 

2.     A produção deste ácido não é facilmente discernida, mas a Rússia é um grande produtor de ácido nítrico, porque a Rússia é o maior produtor de nitrato de amônio, feito pela reação de amônia com ácido nítrico. O nitrato de amônio na Rússia é de cerca de 11 milhões de toneladas por ano.

3. O ácido sulfúrico também é um reagente necessário, e a Rússia produz 12 milhões de toneladas.

4. O algodão é usado na produção de propulsores, e este produto está prontamente disponível e é comercializado em todo o mundo.     

Agora, vamos estimar as quantidades consumidas de propelentes/explosivos:

Pode-se estimar que cerca de 193.450 toneladas métricas de materiais contendo nitrogênio são necessárias para produzir quantidades suficientes de armamentos para o conflito atual.

Para comparar este requisito com a produção de produtos químicos necessários na Rússia, devemos aplicar um fator para contabilizar a proporção de materiais de partida contendo nitrogênio necessários para fabricar os produtos desejados. Tanto para propelentes quanto para explosivos, esse fator é de cerca de 60%. Portanto, 0,60 x 193.450 = 116.070 toneladas métricas de derivado de amônia para produzir essa quantidade de propelente/explosivo.

Comparando esse valor com a produção de, por exemplo, amônia na Rússia, podemos ver que a munição necessária por ano ocupa cerca de 1,2% da produção de matéria-prima.

É muito provável que a Rússia seja autossuficiente na produção dos produtos químicos necessários para produzir grandes quantidades de munição para os grandes canhões das forças armadas russas.

 Pulicado orginalmente na Black Mountain Analysis. 

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